São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2001

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País tem menos professores do que precisa

DA SUCURSAL DO RIO

Os baixos salários dos professores no Brasil são compensados em parte por algumas características da carreira.
Caso a expansão do ensino básico (que vai da educação infantil ao ensino médio) continue no mesmo ritmo do atual, será necessário formar mais professores. Atualmente, chega a existir um déficit na formação de profissionais capacitados para atender a demanda.
Na prática, isso significa que dificilmente se encontrará professores desempregados num futuro próximo. Um estudo feito pelo sociólogo Simon Schwartzman com base nos resultados dos censos do MEC estimou que, em 1998, o Brasil formava 84 mil professores em potenciais, ou seja, alunos que escolheram carreiras nas quais podiam optar por seguir a carreira do magistério.
De acordo com a estimativa de Schwartzman, considerando que é necessário repor cerca de 10% dos professores que se aposentam ou abandonam a profissão, e que o número de alunos no ensino fundamental e médio cresce a uma taxa média de 2% e 10% na década, respectivamente, seria necessário formar cerca de 231 mil professores por ano.
Por essas contas, que Schwartzman faz questão de frisar que são aproximadas, o Brasil precisaria formar 147 mil professores a mais por ano para conseguir cumprir a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).

Diploma
Em 2007, acabará o prazo estipulado na LDB para que todos os professores no Brasil possuam diploma de nível superior para serem contratados.
Outra preocupação com relação à qualidade da formação dos professores é que a maioria deles está sendo formada em universidades privadas, onde, de acordo com o provão, a qualidade é inferior a de instituições públicas.
"As públicas não formam muitos professores. Além disso, muitas vezes, num curso de física de uma universidade pública a preocupação principal é em formar físicos, e não professores", afirma Schwartzman.
Na rede estadual de São Paulo, a secretária de Educação, Rose Neubauer, afirma que 90% dos professores fizeram universidades particulares.
Mas, de acordo com ela, mesmo que todos os professores formados em universidades públicas resolvessem dar aulas para a rede estadual, o número não seria suficiente.

Qualidade
O desemprego dificilmente preocupará os professores no futuro, mas há outras questões que podem prejudicar a qualidade do ensino.
De acordo com pesquisa feita pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) com base em dados do MEC, há carência de recursos pedagógicos, graves ou menos graves, em 65,3% das escolas públicas de ensino médio no Brasil.
Nas escolas de ensino fundamental, essa carências nas instituições públicas são encontradas em 53,2% das escolas de 8ª série e em 46,2% das de 4ª.
A pesquisa, intitulada Retrato da Escola, mostra também que em 73,5% das escolas públicas de 4ª série, em 85,1% das de 8ª série e em 87,2% das de ensino médio havia problemas de insuficiência de recursos financeiros.



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