|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
ESQUIZOFRENIA
Identificação precoce pode evitar doença
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A identificação precoce da esquizofrenia, doença que atinge
1% da população mundial e que
não tem cura, e o seu tratamento
podem abortar ou retardar os
efeitos da síndrome. É a hipótese
de uma pesquisa com 1.500 pessoas, que está sendo desenvolvida
por cientistas de 23 países, entre
eles EUA, Canadá, Japão e Brasil.
O psiquiatra carioca Jorge Alberto da Costa e Silva, 59, diretor
do Centro Internacional de Pesquisas e Política de Saúde Mental
da Universidade de Nova York,
coordena o trabalho no Brasil.
Segundo ele, um estudo inicial,
feito com 80 pessoas, divididas
em dois grupos, mostrou que
aquelas que receberam medicamentos logo após a detecção dos
sinais precoces da esquizofrenia
não desenvolveram a doença.
Abaixo, trechos da entrevista:
Folha - Em que momento da vida
a esquizofrenia se manifesta?
Jorge Alberto da Costa e Silva - A
doença atinge basicamente jovens
e adolescentes que têm casos de
esquizofrenia na família, num
momento em que ocorre no cérebro uma destruição das conexões
entre as células nervosas para a
construção das novas conexões [o
fenômeno é conhecido por "poda
das sinapses", "proning", em inglês", que vão possibilitar ao indivíduo se organizar mentalmente
para o resto da vida. Tudo o que
atinge o cérebro nesse momento
pode provocar danos irreversíveis. A gente consegue controlar
hoje, por meio de medicamentos,
a maioria dos sintomas esquizofrênicos, mas as vítimas serão indivíduos com cicatrizes de personalidade por toda a vida.
Folha - Qual a importância dessa
pesquisa?
Costa e Silva - Os primeiros resultados de estudos preliminares
mostram que, se conseguirmos
identificar alguns sintomas precoces da doença antes dos maiores (delírios, alucinações etc.), seria o único momento para abortá-la ou retardá-la. Iniciamos em novembro a fase de traduzir os instrumentos de identificação de sintomas. Na segunda fase, a começar em março, vamos testar esses
instrumentos, ou seja, identificar
os sinais precoces. A partir daí, na
terceira fase, começaremos a medicar essas pessoas e ver o que
ocorre dois ou três anos depois,
período em que a doença geralmente aparece. Nós fizemos a
prova do conceito, uma metodologia moderna para testar a hipótese em pequenos grupos, com 80
pessoas: 40 tomaram o remédio e
40 receberam placebo. No grupo
medicado, em dois anos, nenhum
indivíduo desencadeou a doença.
No outro, 33% dos indivíduos desenvolveram a esquizofrenia.
Folha - Como avaliar esses sinais
precoces?
Costa e Silva - Os sintomas se parecem muito com uma crise de
adolescente. O sujeito fica muito
retraído, cai a performance escolar, fica trancado dentro do quarto, irrita-se facilmente, dorme de
dia e fica acordado à noite, entre
outros. Isso tudo sem estar ligado
a drogas ou a eventos traumáticos. O indivíduo que tem alguém
esquizofrênico na família, em primeiro grau (pai, mãe, irmãos),
tem dez vezes mais chances de desenvolver a doença.
Folha - A doença só atinge pessoas com esquizofrenia na família?
Costa e Silva - Tem de haver uma
predisposição genética, mas acreditamos que é preciso a ação de
fatores ambientais para que a
doença se expresse. Mas ainda
não conhecemos esses fatores.
Texto Anterior: Medicamentos: Vigilância recebe denúncias de reações a remédios Próximo Texto: Estradas: Duplicação da Régis emperra no pior trecho Índice
|