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ESTRADAS
Local é o mais crítico de acidentes e mortes; por falta de licença ambiental, obras na serra do Cafezal não saíram do papel
Duplicação da Régis emperra no pior trecho
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Promessa do primeiro mandato
do governo Fernando Henrique
Cardoso, a duplicação da Régis
Bittencourt em São Paulo permanece emperrada no trecho mais
crítico de acidentes e mortes das
estradas federais paulistas.
Os 30 km da serra do Cafezal,
região nativa de mata atlântica
entre os municípios de Juquitiba
(78 km de SP) e Miracatu (180 km
de SP), estão sem autorização ambiental e integram a única região
dos 300 km da rodovia no Estado
sem ter as obras concluídas ou encaminhadas até agora.
Esse trecho faz a Régis, principal
ligação de São Paulo à região Sul,
ser conhecida como a "rodovia da
morte". Em 1999 e 2000, 57 pessoas morreram na serra do Cafezal, que também registrou 917 acidentes -mais de um por dia.
A quantidade de mortes é, proporcionalmente à sua extensão,
46% superior à do restante da estrada. Também supera em 48% a
registrada na Presidente Dutra,
que liga a capital paulista ao Rio.
Desentendimentos
O impasse que já dura quase sete anos se deve a desentendimentos entre órgãos ambientais, Ministério Público Federal e DNER
(Departamento Nacional de Estradas de Rodagem). Eles divergem sobre os traçados da duplicação e os estudos técnicos, ambientais e arqueológicos já feitos.
O DNER, após análises do IME
(Instituto Militar de Engenharia),
chegou a obter uma licença ambiental prévia do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) para a obra em 1996.
A autorização foi contestada pelo Ministério Público sob a alegação de que a estrada, por ser federal, deveria ter aval do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O órgão aguarda um parecer do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), pedido pelos
procuradores, para decidir sobre
a concessão da nova licença.
"Eu acho que não está demorando. Há uma série de instituições atuando simultaneamente. É
uma engenharia política. Precisamos chegar a uma solução consensual. Temos que tapar todas as
brechas, senão alguém entra na
Justiça e barra depois", afirma
Wilson Almeida Lima, gerente-executivo do Ibama.
Segundo a Folha apurou, um
diretor do instituto cobrou do Ministério Público esse parecer no
último dia 20. O prazo para a execução se esgotou em novembro.
Os técnicos do DNER defendem
que, para a duplicação da Régis na
serra do Cafezal, seja construída
uma pista distanciada da atual. Os
ambientalistas querem um traçado diferente: apenas a ampliação
paralela da pista existente.
Deslizamentos
"Eles exigem que a estrada fique
colada na de hoje. Mas os morros
são altos e qualquer deslizamento
de terra cobriria as pistas. A operação da rodovia ficaria fragilizada. Não dá para imaginar a possibilidade de deixar parte do corredor do Mercosul interrompida",
afirma Deuzedir Martins, diretor
do DNER no Estado, em referência ao nome dado pelo governo
federal ao projeto de duplicar toda a extensão da Régis, nas regiões Sul e Sudeste, para reduzir
os custos do transporte de carga.
Segundo ele, dos 30 km envolvidos na duplicação da serra, os
questionamentos se concentram
em uma área de 2 km da fazenda
Itereí, utilizada para passeios e
viagens turísticas.
"Há outros trechos em que a
nossa proposta também entra na
mata, mas só esse é questionado",
afirma o diretor do DNER.
"O DNER não quer fazer um estudo profundo da outra alternativa de duplicação. A sociedade tem
direito de conhecer as duas propostas. Qualquer alternativa vai
degradar, não há área boa ambientalmente, mas tudo precisa
ser bem estudado", diz a procuradora do Ministério Público Federal Inês Virgínia Soares.
Ela afirma que, mesmo com a licença do Ibama, a obra não poderá começar por falta de estudos
arqueológicos da região.
O DNER afirma que eles foram
feitos pelo órgão estadual do patrimônio histórico na primeira fase do projeto, antes de 1997, e que
novas análises estão sendo concluídas pelo Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional).
Riscos de acidentes
A procuradora Inês nega que os
atrasos da obra sejam culpa do
Ministério Público Federal e diz
que os riscos pelos acidentes são
de responsabilidade do DNER.
"As mortes são gravíssimas. Podemos até propor uma ação por
improbidade administrativa."
O diretor do órgão alega que,
desde 1996, época das primeiras
contestações ambientais, já foram
atendidos "todos os pedidos de
modificações possíveis". "O projeto já foi bastante alterado", afirma Martins, citando uma redução
de 190 mil m2 para 57 mil m2 na
área de desmatamento e de 2.330
metros para 1.500 metros na de
túneis.
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