São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

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Programa vai de Plano Diretor a ajuda a tribos

DA REPORTAGEM LOCAL

A reivindicação do cacique Adolfo Tiago e de sua gente era uma criação de galinhas, além da realização de "intercâmbio" com seus irmãos xinguanos. Com as aves, a tribo teria carne abundante, penas para artesanato e esterco para criação de peixe. No contato com as tribos do Xingu, resgatariam uma identidade cultural perdida por séculos de isolamento.
"Não queremos a farmácia cheia de remédios, queremos que meu povo tenha comida e possa cantar e dançar", disse o cacique.
O desejo dessa tribo guarani, sediada em Bertioga, é só um exemplo dos muitos formatos que um programa de cidade saudável pode tomar. "O conceito de promoção da saúde que defendemos está no cotidiano dos índios, sem o referencial de doenças e de medicamentos", diz Ana Maria Caricari, uma das pesquisadoras do programa Cidade Saudável, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Disciplina inédita
O início do programa na aldeia deu origem a uma troca cultural entre os guarani e tribos do Xingu, onde a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tem um projeto que já dura 30 anos. O contato deu origem, na Faculdade de Saúde Pública, a uma disciplina inédita sobre "saúde e etnia".
Os índios são só uma das frentes do programa Bertioga Saudável. "Trabalhamos para que a população conheça seu município, pois a idéia que se vende é a da cidade de condomínios e loteamentos", diz Caricari. "Mais de 50% da população mora em favelas." Ela diz que, se os moradores não têm boas condições de vida, o turista também não terá.
Num primeiro momento, após identificadas as lideranças, os moradores construíram mapas comunitários da cidade. Sobre uma cartografia oficial, foram acrescentando trilhas e referências que consideravam importantes -desenhando assim um mapa da cidade que consideravam desejável.
Hoje, a prioridade é participar dos debates do Plano Diretor, que estabelece as regras de ocupação da cidade. Como o debate e os detalhes são técnicos, o programa já treinou 45 pessoas, capazes agora de apontar problemas e propor soluções.


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