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Vôos são cancelados, e ninguém é multado
Pelo menos 30 partidas não ocorreram ontem, mas nenhuma empresa foi autuada
Como não há legislação que impeça a comercialização de bilhetes acima do que avião comporta, punição poderia ser contestada na Justiça
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A intervenção branca nas
empresas aéreas, ou plano de
emergência, como batizou o governo, não ocorreu ontem nos
principais aeroportos do país.
Vôos continuaram sendo
cancelados por baixa ocupação,
mas com impacto menor no total de atrasos para os passageiros. Segundo a Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil), não
houve transtornos. O volume
de vôos previsto para o Ano Novo, de acordo com a Anac, era
menor que no período do Natal.
Ao menos 30 vôos foram cancelados ontem segundo relatos
de pessoas ligadas às companhias e técnicos da Infraero.
Todos pediram anonimato,
uma vez que a Anac centraliza a
divulgação dos dados por decisão do governo federal.
Do total, 22 foram cancelados pela TAM e cinco pela Gol,
as duas empresas líderes do setor, com mais de 80% da divisão do mercado de aviação civil.
Parte desses cancelamentos
eram vôos previstos, mas sem
demanda nem bilhetes vendidos. Nesses casos, não houve
sequer passageiros afetados.
Outra parte, porém, se referia justamente a práticas criticadas e proibidas pelo governo
anteontem: o cancelamento de
vôos com poucos passageiros
para evitar prejuízos às empresas, remanejando esses clientes
para aeronaves das mesmas rotas em horários posteriores.
Para ter segurança na promessa de que não haveria cancelamentos, o governo inspecionou a central de reservas das
companhias. Com os dados, teria "congelado" a previsão, com
os aviões voando cheios ou vazios. A medida visava impedir
altas margens de overbooking
-venda de mais bilhetes que o
número de vagas disponíveis.
Mas não houve esse congelamento na prática por dificuldades já conhecidas do governo.
Não há legislação que impeça o
overbooking, feito pelas companhias para compensar reservas que não se confirmam. Logo, autuar uma companhia pela
prática daria margem para contestações judiciais futuras pelas empresas e o governo temia
isso, segundo apurou a Folha.
Assim, as empresas continuavam não decolando as rotas
que dariam prejuízo em decorrência do baixo número de passageiros. Segundo sua assessoria, os diretores da Anac passaram o dia de ontem monitorando cancelamentos e atrasos.
Oficialmente, a agência reconhecia só quatro cancelamentos, que ela teria autorizado.
Até a conclusão desta edição,
não havia números oficiais de
cancelamentos e atrasos de
vôos no país, mas a situação era
calma. A tranqüilidade estava
mais ligada a ações das empresas, como vantagens aos clientes que remarcassem bilhetes
para dias mais calmos.
As companhias sentiram as
perdas de imagem e receitas
nos últimos dias e se esforçam
para evitar novos problemas.
A Anac modificou ontem a
maneira de apresentação dos
boletins sobre o fluxo aéreo
brasileiro. Em vez de divulgar o
balanço total de atrasos de vôos
no país, apresentou os números de apenas 12 aeroportos e
em períodos diversos.
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