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Adolescentes depõem e acusam funcionários da Febem por morte
PRISCILA LAMBERT
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Adolescentes infratores da Unidade Educacional 17 da Febem
(Fundação Estadual para o
Bem-Estar do Menor) acusaram
ontem formalmente funcionários
da fundação pelo incêndio que
deixou um morto e 22 feridos na
véspera do Natal.
Cinco dos 70 menores internados na unidade depuseram no inquérito de rebelião, incêndio e
morte instaurado no 81º DP (Belém) para apurar o caso.
O delegado Natanael da Silva
Abreu, titular do distrito, não deu
detalhes das declarações, mas confirmou que os menores apresentaram a mesma versão do incidente
que vem sendo divulgada pela
Pastoral do Menor.
Segundo a versão, funcionários
da Febem atearam fogo a uma
porta de madeira que separava um
banheiro do dormitório onde 40
menores haviam se trancado após
um início de rebelião. O fogo teria
se propagado pelas roupas estendidas no quarto e encurralado os
adolescentes.
Nos próximos dias, pelo menos
60 meninos devem ser ouvidos.
Em seguida, segundo o delegado
Abreu, prestarão depoimento os
seis funcionários da Febem que estavam de plantão na unidade.
Ontem à noite, dez menores
continuavam internados em hospitais, alguns em estado grave.
À tarde, cerca de 200 pessoas
participaram de uma celebração
ecumênica em solidariedade ao
garoto morto e aos feridos.
O culto, realizado na Igreja São
José do Belém (zona sudeste de
SP), foi celebrado pelo padre Julio
Lancellotti, da Pastoral do Menor.
Familiares dos meninos feridos e
entidades de defesa da criança e do
adolescente estiveram presentes.
No altar, foram expostas colagens feitas por menores que descreviam o momento em que eles
estavam refugiados no dormitório, quando começou o incêndio.
"Os meninos tentaram se refugiar com medo de apanhar dos
monitores. Meu filho disse que
eles amontoaram armários e camas em frente às portas para impedir a entrada deles. Aí, os monitores jogaram querosene na porta
e atearam fogo", conta Áurea
Santos Ferreira, 37, cujo filho teve
queimaduras no pescoço, nas costas e nos braços.
"Para fugir do fogo, eles tentavam sair pela porta, mas os monitores batiam neles e empurravam-nos de volta ao quarto."
"Foi um massacre", disse chorando Rosalina Maria de Jesus,
mãe de um garoto que está na UTI
do hospital do Tatuapé com queimaduras de terceiro grau.
Funcionários da Febem, presentes ao culto, contam outra versão.
Segundo José de Souza, coordenador de turno da UE- 17, vários
monitores, inclusive ele, foram feridos com estiletes e pauladas durante a tentativa de fuga.
"Os monitores tentaram negociar com os menores, mas eles se
recusaram e atearam fogo para
chamar a atenção", disse Souza,
com um hematoma no rosto.
O presidente da Febem, Eduardo
Roberto Domingues da Silva, também esteve presente ao culto.
"Garanto que vamos apurar todas as condições que levaram à essa situação. Isso não podia ter
acontecido, ainda mais por ser
uma unidade pequena", disse, ao
ser chamado ao altar.
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