São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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Jejum prossegue depois de proposta

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

Os sequestradores do empresário Abílio Diniz ouviram ontem pelo rádio a proposta do governo brasileiro de antecipação de acordos de transferência dos presos, mas decidiram manter a greve de fome até que recebam documento oficial com os detalhes da medida e a garantia de que o benefício seja estendido também ao brasileiro.
Ontem, os presos completaram 44 dias em greve de fome. "Os presos informaram que estão aguardando que chegue a suas mãos a proposta formal e detalhada do que vem a ser esta solução apresentada pelo governo brasileiro", disse o porta-voz dos sequestradores, Breno Altman.
Segundo ele, os presos disseram que vão analisar com "respeito e urgência", mas só decidirão sobre a eventual suspensão da greve caso haja uma solução concreta para o brasileiro Raimundo Costa Freire.
"No caso do brasileiro, só pode haver o indulto, que pode ser concedido pelo presidente, ou a liberdade condicional", disse Altman.
Os presos estiveram reunidos ontem com o embaixador do Chile, Juan Martabit, e o cônsul da Argentina, Guilhermo Hurt.
O embaixador chileno disse que o governo de seu país passaria a estudar a proposta do governo brasileiro a partir de hoje. "Vamos encontrar uma solução rápida, que deve demorar poucos dias", disse Martabit. Hurt deixou o hospital sem dar entrevistas.
Os advogados dos sequestradores aguardavam ontem à noite a chegada de um fax do Ministério da Justiça com os termos dos acordos propostos. "Enquanto não estiver escrito, eu não acredito", disse o advogado Iberê Bandeira de Mello.

Estado de saúde
Seis dos oito sequestradores passariam ontem a receber soro e nutrientes pela traquéia, uma vez que não estava sendo mais possível a aplicação nas veias.
"Eles "perderam' as veias. A solução foi aplicar o soro diretamente na traquéia", disse Altman.
O irmão de Sérgio Urtubia, Alejandro Urtubia, que não via o irmão havia dez anos, chorou ao deixar o hospital e disse que Sérgio parecia "um cadáver". "Ele me disse que não tem mais força de vontade de viver."
O último boletim médico divulgado pelo Hospital das Clínicas informou que os presos apresentavam "nível e conteúdo de consciência normais com períodos de prostração (grande debilidade resultante de doença) e não apresentam alterações neurológicas".
Os pacientes em estado mais grave são o argentino Humberto Paz, que está com dores abdominais, náuseas e vômito, e o chileno Sérgio Urtubia, que continua com diarréia mucosa com sangue.
Urtubia está tomando antibióticos que parecem não estar surtindo efeito, segundo Altman.
As complicações dos dois demonstram que eles podem estar com atrofia intestinal. Raimundo Freire está com dores musculares e no peito.
De acordo com o boletim, cresce o risco de infecções nos presos. Infecção, neste momento, significa risco iminente de morte para os sequestradores.



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