São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

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COLAPSO DA SEGURANÇA

Roberto Benito Júnior, de Salto (SP), foi libertado no sul de Minas Gerais depois que a família pagou resgate de US$ 800 mil

Empresário é solto após 120 dias de cativeiro

Marcos Peron/Folha Imagem
O empresário Roberto Benito Júnior acena para os jornalistas ao lado da mulher após ser libertado de sequestro que durou 120 dias


ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS

MÁRIO TONOCCHI
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O empresário Roberto Benito Júnior, 35, foi libertado na madrugada de ontem após passar 120 dias em cativeiro, em um dos sequestros mais longos do país. Benito Júnior, que é de Salto (a 105 km de São Paulo), foi solto em uma estrada de Bueno Brandão, município do sul de Minas Gerais.
A libertação ocorreu após o pagamento de resgate de US$ 800 mil, segundo apurou a Folha. Nem a polícia nem o porta-voz da família, o supervisor das empresas de Benito, Valdemir Colleoni, confirmaram o valor pago. O resgate equivale a 20% do pedido inicial, de US$ 4 milhões.
Godofredo Bittencourt Filho, 56, delegado titular do Deic (Departamento Estadual de Investigações sobre Crime Organizado), disse que não tem conhecimento de um sequestro mais longo no Estado.
A operação de pagamento do resgate foi considerada uma "gincana" pela polícia: envolveu pelo menos três carros, sendo que o negociador da família teve de andar em um veículo roubado que os sequestradores deixaram em uma rua de São Paulo. O dinheiro foi entregue no Cemitério São Paulo, na capital.
Benito Júnior foi sequestrado no dia 2 de outubro do ano passado, por volta das 18h30, após deixar o escritório onde trabalhava, em Salto. A família do empresário é uma das proprietária das Lojas Cem, rede de lojas de eletrodomésticos.
Durante o período em que esteve sequestrada, a vítima ficou em um quarto de 4 m2, vedado com sacos de lixo, e perdeu 10 kg.
A libertação ocorreu por volta das 3h45min. O empresário entrou em contato com a família após andar por meia hora e chegar ao hotel Estância, no centro da cidade mineira.
"Ele não consegue falar e só chora quando olha para seus familiares", disse o funcionário da empresa encarregado de atender os jornalistas.

Quadrilha
De acordo com o delegado seccional de Sorocaba, Everardo Tanganelli Júnior, a quadrilha era "ousada e bem estruturada". "Ninguém consegue manter uma pessoa em cativeiro por quatro meses se não tiver estrutura."
Depois de aproximadamente 60 dias de negociação, mantido o impasse no valor do pagamento, o negociador da quadrilha teria sido alterado.
Segundo a Folha apurou, a polícia investiga duas hipóteses para a mudança de negociadores: terceirização ou venda de refém. No entanto a principal teoria é que o mesmo grupo tenha mantido o sequestro. "As hipóteses são remotas, mas não podemos descartá-las", afirmou Tanganelli.
O porta-voz da família afirmou que, nos primeiros cem dias de sequestro, foram feitos apenas três contatos, todos por meio de telefones celulares.
Além da Delegacia Seccional de Sorocaba, as investigações estão sendo acompanhadas pela Polícia Civil de Salto, com o apoio da DAS (Delegacia Anti-Sequestro) e do Deic, de São Paulo.
A família disse acreditar que o sequestro foi motivado pela inauguração de um hotel quatro estrelas da família. O Golden Tower São Paulo Hotel, localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, foi inaugurado em maio do ano passado.
Os contatos eram feitos sempre com ameaças de morte, de mutilação e de tortura ao sequestrado, de acordo com a família.

Colaboraram Raquel Lima, Juliano Nascimento e Leandro Nogueira


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