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SAÚDE
Ministério Público de São Paulo pede explicações a hospital que cobra de pacientes cheque como garantia de pagamento
Promotoria combate exigência de caução
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo decidiu iniciar uma
ofensiva contra a exigência do
cheque-caução por hospitais para
a prestação de serviços. A Promotoria aponta irregularidade na
prática com base em artigos do
Código de Defesa do Consumidor
e do novo Código Civil.
"É como se um restaurante pedisse para o cliente deixar o relógio antes de comer", disse o promotor de defesa do consumidor
João Lopes Guimarães Júnior,
que no fim do ano passado iniciou uma investigação sobre o assunto. "Se a premissa é a da desconfiança, alguém pode querer
que o hospital dê um cheque para
o paciente, como garantia para
um eventual erro médico."
Segundo o Sindhosp (Sindicato
do Hospitais do Estado de São
Paulo), a exigência é feita na
maioria dos 1.812 hospitais com
fins lucrativos do país. A entidade
não considera o procedimento
ilegal, informou sua diretoria.
O procedimento do Ministério
Público do Estado de São Paulo
foi instaurado depois de a Justiça
ter solicitado que a Promotoria se
manifestasse sobre o caso de uma
advogada que teve de entregar
um cheque-caução ao Hospital e
Maternidade São Luiz, na zona
oeste da capital paulista, para poder internar a sogra em maio do
ano passado.
Apesar de a idosa estar com o
convênio médico em dia, a internação foi negada pela operadora
do plano de saúde. E o hospital
exigiu um cheque de R$ 6.000 para internar a paciente, que estava
em situação de risco por causa de
uma infecção grave.
A advogada conseguiu por
meio de medida cautelar sustar o
cheque. "Eles usam de coação para conseguir o cheque", disse Angela Costa, colega da advogada e
autora da medida cautelar. Costa
é especialista em responsabilidade civil médica.
O promotor diz que, ao saber do
caso, enviou ofício ao hospital, em
que perguntava se a unidade exigia o cheque-caução e qual seria a
base legal para isso. "Disseram
que é praxe", afirma Guimarães
Júnior. O hospital não apresentou
argumento legal para a prática,
diz ele, o que deu mais "combustível" para a investigação.
Guimarães Júnior afirma que
vai instaurar novos procedimentos à medida que receber novas
denúncias. Ele já tem notícias de
hospitais particulares da capital
paulista que descontam o cheque-caução no mesmo dia em que o
recebem e prometem ressarcir o
paciente se não precisarem do dinheiro. Um deles demorou mais
de uma semana para ressarcir um
paciente.
No dia 14 de janeiro, Guimarães
Júnior enviou um ofício à diretoria do São Luiz em que propõe à
unidade um compromisso de
ajustamento de conduta. Se o
hospital não aceitar, deverá propor ação pedindo o fim da exigência e pagamento de multa em caso
de descumprimento da ordem.
A assessoria de imprensa do São
Luiz informou que o hospital
"não tem conhecimento do termo" e que não iria se manifestar
sobre os fatos informados pela reportagem ontem à tarde.
A assessoria não conseguiu localizar nenhum dos porta-vozes
da empresa. Na noite de ontem, a
reportagem deixou recado para o
diretor-presidente do hospital,
que não telefonou de volta.
Os principais obstáculos legais à
exigência da "garantia" estão no
Código de Defesa do Consumidor. "É proibida a exigência de
vantagem manifestamente excessiva [pelo prestador do serviço"",
diz Guimarães Júnior. "E o Código Civil diz que os contratos devem garantir o princípio da boa-fé." Isto é: o hospital não pode
partir da premissa de que todo
paciente é um mau pagador.
"Se ele entrega o cheque e houver dúvida em relação ao valor, o
cliente estará em situação de desvantagem. Estará brigando com
alguém que já recebeu. O consumidor é a parte mais fraca. Como
ele pode ficar com o ônus de pagar antecipadamente um valor
que desconhece?", questiona.
(FABIANE LEITE E LUIS RENATO STRAUSS)
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