São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Estreia no colégio é dia de mães aflitas e pais paparazzi

Casais se dividem entre angústia e alegria quando seu filhos entram na escola

A "Folha" acompanhou a chegada de dez crianças a um colégio de São Paulo; pais e mães ficaram na porta da sala de aula o tempo todo


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A aula começa, e a professora está sentada no chão com seus novos alunos, crianças de dois anos. Ela segura a atenção mostrando figurinhas de desenhos da TV. Ao redor, porém, há certo alvoroço. Escutam-se vozes.
Da porta, alguém agita os braços e grita: "Filho, a mamãe está aqui, viu?". Em seguida, outra criança vai até o corredor procurar sua mãe, que surge prontamente: "Você quer fazer xixi? Você quer o brinquedo?".
Assim são os débuts escolares. Na quarta-feira passada, a Folha acompanhou o primeiro dia de aula no colégio Guilherme Dumont Villares, no Morumbi (zona oeste de São Paulo), e fez duas constatações.
Primeiro: havia mais adulto que criança -13 responsáveis (mães, pais, tia e avó) por dez alunos. Depois: à exceção de dois pequenos que não queriam soltar-se dos pais, foram os adultos os maiores aflitos.
Um pai sai da sala para atender o celular: "Alô. Oi, Waldir. Não posso falar. Estou ocupadíssimo". Ele volta, pede um sorriso à filha e dispara sua câmera. Quase todas as mães também registram o primeiro dia. Por breves momentos, a atenção das crianças vai da professora para os flashes.
A presença dos pais é uma estratégia escolar que não só evita o trauma na adaptação dos pequenos a esse ambiente desconhecido como também ajuda os adultos a se acostumarem à vida sem os filhos presentes nas 24 horas do dia.
Mas há limite. Após meia hora de aula, a professora Joana Cardoso, 24, gentilmente pede licença e fecha a porta. As mães ficam apavoradas. De dentro da sala, as crianças veem cabeças curiosas se revezando na fresta envidraçada da porta.
Passado o primeiro impacto, as mães se acalmam e tomam lugar nas cadeiras postas no corredor especialmente para os primeiros dias de aula. Elas, então, começam a se conhecer.
A biomédica Maria Paula Passarelli, 34, mostra a agenda com os horários de seu Eduardo, 2, nas duas semanas de adaptação. Naquele dia, a aula vai das 13h às 14h15 apenas. A permanência aumentará dia a dia até ocupar a tarde inteira.
"É estranho me separar do meu filho", desabafa Maria Paula. "Foi a mesma sensação quando a licença-maternidade acabou e voltei a trabalhar."
No corredor, conversa-se sobre escolha do primeiro colégio, mamadeira, uniforme e lápis de cor. "Como está o coração?", pergunta a professora de uma das turmas da manhã. As mães levam a mão ao peito e encenam caretas de dor.
Só um adulto pôde permanecer mais tempo na sala, o treinador de rúgbi Danilo Cattani, 29. Custou até que Letícia, 2, aceitasse ficar na aula sem o pai. Ele abre a porta e sai em direção ao jardim, onde toma um pouco de ar e se senta como se estivesse exausto. "O Danilo também deu trabalho quando foi entrou na escola", entrega Maria Antônia Cattani, 58, presente no colégio para dar apoio moral ao filho e à neta.
Após muitas espiadas pela fresta, as mães finalmente veem a professora aparecer na porta. Fim da aula. Abrem um sorriso, despedem-se umas das outras e saem apressadas puxando suas crianças pela mão. Mas a adaptação não terminou. A aula seria um pouco mais longa no dia seguinte.


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