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Niemeyer afirma que procurou solução diferente
da Sucursal de Brasília
"A procura da solução diferente
me dominava. Na catedral, por
exemplo, evitei as soluções usuais,
as velhas catedrais escuras, lembrando pecado. E, ao contrário, fiz
escura a galeria de acesso à nave e
esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes para os espaços infinitos." É assim que Niemeyer descreve sua concepção da catedral.
Marxista, o arquiteto afirma, em
sua recente autobiografia "As Curvas do Tempo" (Editora Revan),
ter tido dos padres "sempre compreensão e apoio". Niemeyer afirma que o núncio apostólico exclamou, na igreja: "Esse arquiteto deve ser um santo para imaginar tão
bem essa ligação esplêndida da nave com os céus e o Senhor".
Na Catedral de Brasília, ele radicalizou o conceito de unir a arquitetura às artes plásticas. O prédio
em si, com 16 colunas curvadas,
sustentando o interior de vidro e
apontando ao céu como mãos postadas em oração, é uma escultura.
Mas Niemeyer ainda convocou
alguns de seus amigos artistas para
completar o projeto. Marianne Peretti fez os vitrais, Di Cavalcanti
realizou os painéis da Via Sacra,
Athos Bulcão pintou a Vida de
Nossa Senhora, Alfredo Ceschiatti
esculpiu os três anjos que pendem
do teto e os quatro evangelistas
que ladeiam a entrada da igreja.
Os sinos do campanário foram
doados por imigrantes espanhóis e
pelo governo da Espanha; o papa
Paulo 6º deu o altar-mor e abençoou a cruz metálica no topo do
templo, para a qual convergem as
colunas.
A nave, circular, fica abaixo do
nível do solo. Para alcançá-la, se
atravessa um túnel de paredes e piso pretos que dão em uma "zona
de meditação", em penumbra.
A dura realidade do país faz com
que, ao se avançar pelo túnel, se
medite mais sobre as suas mazelas
sociais do que os temas metafísicos
que devem ter sido o objetivo de
Niemeyer: o caminho está sempre
atravancado por pedintes.
Nem todos gostam da Catedral
de Brasília, e não só por causa do
desconforto do calor ou dos problemas atuais de má conservação.
Visitantes ilustres recentes, como os presidentes Oscar Scalfaro
(Itália) e Lech Walesa (Polônia)
criticaram a igreja e sua decoração.
Scalfaro, por exemplo, achou
"meio maluco" o desenho de um
ovo no vitral, que fica sobre o altar.
Marianne Peretti, que supervisionará a reforma do seu vitral,
respondeu ao presidente: "O ovo é
um dos mais antigos símbolos da
vida, portanto uma manifestação
da presença de Deus entre os homens". Segundo ela, com 2200 metros quadrados, o vitral da igreja é
o maior do mundo.
(CELS)
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