São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

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Niemeyer afirma que procurou solução diferente

da Sucursal de Brasília

"A procura da solução diferente me dominava. Na catedral, por exemplo, evitei as soluções usuais, as velhas catedrais escuras, lembrando pecado. E, ao contrário, fiz escura a galeria de acesso à nave e esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes para os espaços infinitos." É assim que Niemeyer descreve sua concepção da catedral.
Marxista, o arquiteto afirma, em sua recente autobiografia "As Curvas do Tempo" (Editora Revan), ter tido dos padres "sempre compreensão e apoio". Niemeyer afirma que o núncio apostólico exclamou, na igreja: "Esse arquiteto deve ser um santo para imaginar tão bem essa ligação esplêndida da nave com os céus e o Senhor".
Na Catedral de Brasília, ele radicalizou o conceito de unir a arquitetura às artes plásticas. O prédio em si, com 16 colunas curvadas, sustentando o interior de vidro e apontando ao céu como mãos postadas em oração, é uma escultura.
Mas Niemeyer ainda convocou alguns de seus amigos artistas para completar o projeto. Marianne Peretti fez os vitrais, Di Cavalcanti realizou os painéis da Via Sacra, Athos Bulcão pintou a Vida de Nossa Senhora, Alfredo Ceschiatti esculpiu os três anjos que pendem do teto e os quatro evangelistas que ladeiam a entrada da igreja.
Os sinos do campanário foram doados por imigrantes espanhóis e pelo governo da Espanha; o papa Paulo 6º deu o altar-mor e abençoou a cruz metálica no topo do templo, para a qual convergem as colunas.
A nave, circular, fica abaixo do nível do solo. Para alcançá-la, se atravessa um túnel de paredes e piso pretos que dão em uma "zona de meditação", em penumbra.
A dura realidade do país faz com que, ao se avançar pelo túnel, se medite mais sobre as suas mazelas sociais do que os temas metafísicos que devem ter sido o objetivo de Niemeyer: o caminho está sempre atravancado por pedintes.
Nem todos gostam da Catedral de Brasília, e não só por causa do desconforto do calor ou dos problemas atuais de má conservação.
Visitantes ilustres recentes, como os presidentes Oscar Scalfaro (Itália) e Lech Walesa (Polônia) criticaram a igreja e sua decoração.
Scalfaro, por exemplo, achou "meio maluco" o desenho de um ovo no vitral, que fica sobre o altar.
Marianne Peretti, que supervisionará a reforma do seu vitral, respondeu ao presidente: "O ovo é um dos mais antigos símbolos da vida, portanto uma manifestação da presença de Deus entre os homens". Segundo ela, com 2200 metros quadrados, o vitral da igreja é o maior do mundo. (CELS)


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