São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO
CPI recebe informação sobre extorsão praticada por responsáveis pelo combate à venda de drogas
Traficante acusa mais policiais de SP

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Deputados da CPI do Narcotráfico conversam com testemunhas durante depoimento reservado


FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Uma testemunha ouvida ontem no Rio de Janeiro pela CPI do Narcotráfico, em depoimento fechado, acusou policiais de três Estados -São Paulo, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul- de extorquirem dinheiro de traficantes e colaborarem com o tráfico de drogas.
A testemunha citou o Denarc (Departamento Estadual de Investigação sobre Narcóticos), da Polícia Civil paulista. Ele disse que os integrantes do órgão revendem parte das drogas e das armas que apreendem, além de fazer extorsões a traficantes.
O autor dessas acusações, cujo depoimento durou mais de cinco horas, é Wilson Weirich, preso no Rio em fevereiro sob acusação de traficar drogas e armas em carregamentos de madeira.
Weirich também detalhou uma rota da venda ilegal de armas que começaria em Miami, nos Estados Unidos. Os armamentos viriam de navio até o porto de Paranaguá, no Paraná, e de lá seguiriam até o Paraguai, onde seriam revendidas a traficantes.

Conexão Campinas
O depoimento de Weirich trouxe novos indícios sobre a conexão do esquema do traficante Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, com outros Estados brasileiros, sempre com a ""colaboração" de policiais.
Weirich também citou na CPI o nome de um advogado, ""dr. Artur", radicado em Campinas (99 km de São Paulo), que prestaria serviços a um traficante do grupo de Beira-Mar.
A CPI suspeita de que o ""dr. Artur" seja o advogado Artur Eugênio Matias, citado em outros depoimentos como participante do esquema do empresário Wiliam Sozza. Sozza, foragido, é acusado de lavagem de dinheiro.
Anteontem, o ex-informante da Polícia Civil paulista, identificado como Laércio, disse aos deputados da CPI que 14 policiais civis de São Paulo lotados no Depatri (Departamento de Proteção ao Patrimônio) também extorquiam dinheiro de traficantes.
A mesma prática criminosa, segundo Laércio, era realizada pelo policial paulista Antonio Lázaro Constâncio, Lazinho, que chegou a ser preso quando a CPI passou por Campinas, mas está solto. Lazinho responderia a 42 inquéritos, de acordo com os parlamentares.
Os deputados Robson Tuma (PFL-SP) e Celso Russomano (PPB-SP), sub-relatores da CPI para o Estado de São Paulo, requisitaram a identificação de todos os 17 policiais citados pelas duas testemunhas, a instauração de procedimentos contra eles e informações sobre investigações sobre todo o grupo, para saber se os policiais já estavam sendo investigados por outros crimes.
""Queremos saber o que a polícia de São Paulo vai fazer para investigar esses policiais, puni-los e afastá-los", afirmou Tuma.
Com os depoimentos, a CPI, que veio ao Rio de olho na ""banda podre" da polícia fluminense, acabou colhendo informações sobre supostas irregularidades nas polícias de outros Estados.

Juíza libera suspeitos
Os policiais civis do Rio Carlos Macedo e Alexandre Campos, que estavam presos acusados de extorsão ao traficante Fernandinho Beira-Mar, foram soltos anteontem, dois dias antes do depoimento que deveriam prestar à CPI do Narcotráfico.
Os dois foram libertados por determinação da juíza da 3ª Vara Federal, Cláudia Valéria Bastos Fernandes, numa decisão que irritou os deputados.
"A juíza nos impediu de ouvi-los e nem sequer nos deu qualquer informação. É o primeiro lugar do Brasil em que acontece isso", disse o relator da CPI, deputado Morani Torgan (PFL-CE).
A deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ) disse que os depoimentos de Macedo e Campos estavam combinados com a juíza, que criou um "constrangimento" para os parlamentares.
A CPI encontrou muitas contradições nos depoimentos de outro grupo de policiais fluminenses acusados de extorquir R$ 40 mil de Beira-Mar.
Sergio Kgabopnowics e Antonio Cipriano disseram aos deputados que não extorquiram o traficante, mas afirmaram que, de fato, prenderam e soltaram no Mato Grosso do Sul, no ano passado, a mulher de Beira-Mar, Joelma, e um guarda-costas do traficante, porque não havia nada provado contra eles.
""Isso parece história da carochinha. Nenhuma criança pode acreditar nessa história", afirmou o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES).


Texto Anterior: Barbara Gancia: Estudantes fazem o que adultos deveriam fazer
Próximo Texto: "Depoimento foi montado", diz advogado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.