DA REPORTAGEM LOCAL

No último dia 3, a psicóloga Flávia Martins começou na internet um grupo para discutir questões de guarda, adoção e criação de filhos por famílias alternativas. Em 28 dias, a lista recebeu 33 visitantes e 134 mensagens.
Os participantes são na maioria gays e lésbicas, com e sem filhos (ou pensando em adotá-los). Relatam suas vivências, comentam discriminações, trocam preocupações e dúvidas sobre legislação. Segundo Flávia, é a primeira lista do gênero no Brasil.
Flávia Martins, 55, separou-se de um segundo casamento heterossexual há quatro anos e há três vive com Nicole, 40. Moram e trabalham numa cidade do interior de São Paulo. Os nomes usados são fictícios.
As duas se conheceram pela internet e juntas mantêm um site onde contam episódios do "nosso amor", como batizaram a página.
Flávia tem um filho, Henrique, 15, e a guarda da neta Rita, de dez anos. Nicole "adotou" o sobrinho Thiago, 14, depois que a mãe do menino morreu.
Os dois adolescentes estão na mesma classe. As duas "mães" dividem as idas às reuniões e festas da escola. Nicole, que é professora de educação física e de informática e já foi policial militar, está abrindo uma empresa de segurança. No início da noite, vai buscar Flávia no consultório.
Nos fins de semana, a família joga cartas e vai a pescarias. O ex-marido de Flávia costuma visitar a família, acompanhado da namorada. Henrique diz que os colegas da escola estão sempre na casa. O rapaz afirma que eles sabem que sua mãe vive com outra mulher, mas que nunca ouviu piadinhas a respeito.
"Não ficamos trocando beijos em público, mas, se perguntam se somos um casal de lésbicas, dizemos que sim", afirma Flávia.