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Juiz conservador garantiu paternidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Yasmin nasceu, no dia
13 de fevereiro de 1999, foi levada
do Hospital São João de Deus para o quarto preparado com tudo
rosa no andar de cima do Núcleo
de Beleza do Loirinho.
O salão fica na rua dos Beija-Flores, em Santa Luzia, cidade
histórica próxima a Belo Horizonte. No cartório, a menina foi
registrada como Yasmin Santarelli Ogando Dias.
Dias é o sobrenome do pai biológico, José Geraldo, o Índio, 31.
Ogando é da mãe Ilda. E Santarelli, de Jarbas Porto, é o sobrenome
do Loirinho, transexual, companheiro de Índio, e que tem Yasmin como filha. "É como se ela tivesse vindo de dentro de mim",
diz Loirinho, 36.
Yasmin nasceu de uma relação
eventual entre Índio e Ilda, empregada que cuidou da casa e do
salão durante um período. Grávida, Ilda prometeu que a futura
criança seria dos dois rapazes, e
Loirinho passou a cuidar dela ainda na barriga da mãe.
Acompanhou o pré-natal, viu o
ultra-som. Só mais tarde soube
que o pai era o próprio companheiro, mas diz que não ligou.
Como seu casamento homossexual era conhecido, Índio entrou
na Justiça para preservar a guarda
da criança. "Eu pedi garantias de
que, em tempo algum, ninguém
poderia pleitear a guarda em razão de o pai ser homossexual e de
viver com um companheiro", diz
a advogada do casal, Rosa Maria
de Jesus Werneck, 40.
O processo durou dois anos e a
sentença foi dada em outubro do
ano passado. O juiz Marcos Henrique Caldeira Brant, 42, dois filhos, disse que a sentença reconhecia "a dois homens que vivem
uma relação homoafetiva a garantia de que poderão ficar com a
criança". "É o reconhecimento da
paternidade gay", afirmou o juiz.
Loirinho não tem a guarda de
Yasmin, porque legalmente a
guarda não pode ser concedida a
duas pessoas do mesmo sexo.
Mas, se Índio morrer ou perder a
guarda, Yasmin ficará com Loirinho, diz a advogada do casal.
Yasmin, hoje com três anos, está
aprendendo que tem uma mãe
biológica, que mora no mesmo
bairro, e que tem uma "mãe diferente", que cuida dela e de cujos
braços nunca sai.
Loirinho, como transexual, veste-se como mulher e tem formas
femininas. "Meu sonho é fazer a
cirurgia para mudar o sexo, pensando mais na menina", ele conta.
"Fico triste quando ela quer tomar banho comigo e eu falo que
um dia ela vai entender."
O juiz Caldeira Brant, considerado conservador, disse que a
sentença foi dada por conta da
"relação afetiva" do casal. "Há milhares de crianças sem referência
nos abrigos. Essa criança tem o
pai, tem conforto e seu próprio
quarto. A relação homoafetiva do
pai não é impedimento."
Índio trabalha como marmoreiro e Loirinho como cabeleireiro.
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