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Xingou, levou
Prédios decidem multar morador
que fala palavrão durante jogo
na quadra ou que grita palavras
de baixo calão na janela
CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO
No meio da partida de futebol, na quadra de um prédio
da zona sul da capital paulista, o morador soltou um rotundo "filho da puta".
Vizinhos reclamaram com
o zelador, que repassou à administradora, que, depois de
confirmar a cena pelo circuito interno do prédio, multou
o boleiro em cerca de R$ 600
-valor de um condomínio.
"Os vizinhos já são obrigados a ouvir a gritaria do jogo,
não precisam ouvir palavrão
também. Principalmente as
crianças", diz Silvia Carreira,
sócia do Grupo Light, que administra aquele prédio.
O morador, que não foi
identificado, recorreu à Justiça alegando que não disse
nada impróprio. Pediu ainda
indenização por danos morais de R$ 3.500. O processo
está tramitando.
Do total de 7.380 multas e
advertências aplicadas pelo
Grupo Light em 2010, 2.287
(31%) foram pelo mau uso
das quadras esportivas
-questão que só perde para
o uso indevido de garagens.
Em 2010, foram 299 multas
e advertências aplicadas por
conta de palavrões.
Segundo Silvia, a maioria
dos 149 condomínios administrados por sua empresa já
adotou a norma de multar o
morador "boca-suja". A mudança no regimento interno
passa por assembleia.
Foi o que aconteceu num
condomínio no Tatuapé
inaugurado há três anos.
Desde a convenção, já estava
prevista a proibição das palavras de baixo calão -tanto
nas quadras quanto dos torcedores exaltados, que gritam à janela em dia de jogo.
Neste ano, foram aplicadas
quatro multas.
A última, em abril, custou
R$ 380 ao jogador que lascou
um "vai tomar no ..." no meio
da pelada. Ele foi advertido
verbalmente, por escrito e,
por fim, depois de repetir o
xingamento pela terceira
vez, teve que pagar.
As câmeras do prédio não
registram áudio, então,
quando há queixa, um segurança observa o jogo e é ele
que testemunha contra o infrator. "Quando dói no bolso,
o problema se resolve", diz o
síndico, Antônio Gleyton.
Mas há quem ache a multa
uma punição rigorosa demais. O advogado Fernando
Zito, 31, morador do Jaguaré,
já foi síndico do prédio e chegou a multar um garoto de 16
anos, mas hoje defende a
conscientização. "Quando
você está no futebol, é aquela
gritaria, você xinga mesmo."
Maria Letícia Nascimento,
professora da Faculdade de
Educação da USP, acha a
multa um exagero.
"É um exagero de cuidado
e de controle. A gente não pode impedir que essas coisas
todas façam parte do cotidiano das crianças, porque elas
ouvem palavrão em casa, na
TV, em todo lugar. A gente
não tem controle, quer faça
mal ou não", afirma.
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