São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011

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Xingou, levou

Prédios decidem multar morador que fala palavrão durante jogo na quadra ou que grita palavras de baixo calão na janela

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

No meio da partida de futebol, na quadra de um prédio da zona sul da capital paulista, o morador soltou um rotundo "filho da puta".
Vizinhos reclamaram com o zelador, que repassou à administradora, que, depois de confirmar a cena pelo circuito interno do prédio, multou o boleiro em cerca de R$ 600 -valor de um condomínio.
"Os vizinhos já são obrigados a ouvir a gritaria do jogo, não precisam ouvir palavrão também. Principalmente as crianças", diz Silvia Carreira, sócia do Grupo Light, que administra aquele prédio.
O morador, que não foi identificado, recorreu à Justiça alegando que não disse nada impróprio. Pediu ainda indenização por danos morais de R$ 3.500. O processo está tramitando.
Do total de 7.380 multas e advertências aplicadas pelo Grupo Light em 2010, 2.287 (31%) foram pelo mau uso das quadras esportivas -questão que só perde para o uso indevido de garagens.
Em 2010, foram 299 multas e advertências aplicadas por conta de palavrões.
Segundo Silvia, a maioria dos 149 condomínios administrados por sua empresa já adotou a norma de multar o morador "boca-suja". A mudança no regimento interno passa por assembleia.
Foi o que aconteceu num condomínio no Tatuapé inaugurado há três anos. Desde a convenção, já estava prevista a proibição das palavras de baixo calão -tanto nas quadras quanto dos torcedores exaltados, que gritam à janela em dia de jogo. Neste ano, foram aplicadas quatro multas.
A última, em abril, custou R$ 380 ao jogador que lascou um "vai tomar no ..." no meio da pelada. Ele foi advertido verbalmente, por escrito e, por fim, depois de repetir o xingamento pela terceira vez, teve que pagar.
As câmeras do prédio não registram áudio, então, quando há queixa, um segurança observa o jogo e é ele que testemunha contra o infrator. "Quando dói no bolso, o problema se resolve", diz o síndico, Antônio Gleyton.
Mas há quem ache a multa uma punição rigorosa demais. O advogado Fernando Zito, 31, morador do Jaguaré, já foi síndico do prédio e chegou a multar um garoto de 16 anos, mas hoje defende a conscientização. "Quando você está no futebol, é aquela gritaria, você xinga mesmo."
Maria Letícia Nascimento, professora da Faculdade de Educação da USP, acha a multa um exagero.
"É um exagero de cuidado e de controle. A gente não pode impedir que essas coisas todas façam parte do cotidiano das crianças, porque elas ouvem palavrão em casa, na TV, em todo lugar. A gente não tem controle, quer faça mal ou não", afirma.


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