São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2000


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TRAGÉDIA EM PERUS
Para secretário, gravação do diálogo entre centro de operação e estação de Perus servirá para reconstituir ações
CPTM apura demora para retirar passageiro

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, disse que a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) vai fazer uma reconstituição da cronologia do acidente para saber se era possível retirar os passageiros do trem e da plataforma da estação de Perus (zona oeste) antes do acidente.
Na sexta-feira, um comboio que estava estacionado na estação Jaraguá perdeu os freios e se chocou com um trem parado em Perus. Nove pessoas morreram e 105 ficaram feridas.
"Embora o principal objetivo seja descobrir o que realmente aconteceu, a cronologia é importante para saber quais foram as atitudes tomadas em relação à situação", disse Frederico.
O secretário afirmou que por meio das gravações entre o CCO (Centro de Controle Operacional) e a estação será possível reconstituir as ações.
De acordo com Frederico, depois que se soube que um trem sem freios se dirigia à estação Perus, a primeira coisa que se tentou fazer foi retirar o comboio que estava estacionado na estação.
Porém, isso não foi possível. Duas hipóteses estão sendo estudadas. A primeira é que não havia energia elétrica na rede e, por isso, o trem não se moveu.
A segunda é que as portas não fecharam, inviabilizando a partida do comboio. Ainda não se sabe exatamente por que as portas não fecharam.
A operação de embarque e desembarque dos trens é feita em torno de dois minutos. Como o trem desgovernado gastou entre sete e nove minutos para atingir o comboio estacionado, Frederico quer saber todos os procedimentos adotados e em que espaço de tempo foram realizados.

Maquinistas
Para maquinistas da CPTM, a tragédia poderia ter sido evitada. De acordo com esses funcionários, na linha ao lado do comboio 127, responsável pelo acidente, havia uma locomotiva movida a diesel e que é utilizada para rebocar vagões com problemas.
Os maquinistas afirmaram que a locomotiva poderia ter sido deslocada para o trilho do trem com problema e, dessa forma, evitado que ele se movesse. Ao invés disso, o último recurso utilizado para tentar parar o comboio foi um calço de madeira.
O secretário discorda dessa avaliação. Para ele, o problema que estava sendo enfrentado até aquele momento não era retirar um trem quebrado, mas fazer a linha voltar a operar.
Por isso, segundo Frederico, a hipótese de utilizar a locomotiva não foi levada adiante.
"Isso é um daqueles casos típicos do pensamento a posteriori, como, por exemplo, "se a locomotiva tivesse ido lá....'"
Os funcionários da CPTM também disseram que o comboio que provocou o acidente não havia sido reformado, ao contrário do que afirmou a direção da CPTM. Frederico disse, porém, que não foi isso que causou o acidente.

Compressores
Um maquinista que não quis se identificar por temer represálias afirmou que os trens têm quatro compressores, mas somente três funcionam, o que, segundo esse funcionário, contribui para a falta de segurança nos trens.
"Isso não tem nada a ver porque há o que se chama de redundância, isto é, o comboio pode funcionar sem problemas com três compressores; o quarto é acionado apenas em caso de necessidade."
O secretário disse que a perda do sistema de freio "é inevitável" depois de algum tempo que o trem está parado e os compressores não estão funcionando por causa da perda de energia.
Frederico afirmou que a expectativa é de que hoje à tarde os trens voltem a circular normalmente pela estação Perus. A estação será reconstruída. Hoje a tarifa não deverá ser cobrada.


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