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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Preso recrutado pela PM fazia ligações da carceragem do Dipo, em São Paulo, segundo tenente

Gradi teve "base" em órgão do Judiciário

DA REPORTAGEM LOCAL

O serviço de inteligência da Polícia Militar de São Paulo usou a carceragem do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), órgão do Judiciário estadual, na capital, como "base" para que condenados recrutados em presídios pudessem ligar de telefones celulares para criminosos.
A informação foi prestada ontem à Justiça pelo tenente Henguel Ricardo Pereira, um dos 13 ex-PMs do extinto Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância) denunciados sob acusação de tortura -teriam agredido dois ex-informantes.
Até agora, sabia-se somente que presos recrutados tinham trabalhado para a inteligência da PM no COC (Centro de Observação Criminológica), da Secretaria da Administração Penitenciária, e na base do Gradi, da PM. Os detentos eram retirados com autorização do então juiz-corregedor dos presídios, Octávio Augusto de Barros Filho.
Segundo o tenente, o assaltante Marcos Massari vinha colaborando com o Gradi do COC, mas a proximidade com os policiais poderia colocar sua vida em risco. Assim, ele acabou sendo levado para a carceragem do Dipo, de onde "fazia algumas ligações".
""O trabalho era feito com o conhecimento do Comando da PM, do Judiciário, do Ministério Público e da Secretaria da Administração Penitenciária", disse.
Barros Filho, que já disse à Folha não saber da infiltração de presos, e o juiz responsável pelo Dipo na época, Maurício Lemos Porto Alves, foram afastados pelo Tribunal de Justiça. Eles são investigados, com o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, por causa dessas ações. A apuração segue há quase um ano em segredo de Justiça no TJ. Devido ao sigilo, os dois magistrados não falam do caso.
A atuação do Gradi contra o crime organizado, revelada pela Folha, chama a atenção pelas mortes: 27 em cinco ações de maior repercussão. Apenas a suposta tortura, que não questiona os métodos de investigação da unidade, virou processo. Os informantes faziam contatos e se infiltravam com PMs em quadrilhas. Para isso, dormiam fora do presídio.
No interrogatório de ontem, os 13 PMs negaram ter agredido os presos Ronny Clay Chaves e Rubens Leôncio Pereira, dois ex-informantes que fugiram em um carro da corporação durante uma missão. Segundo eles, quando da recaptura, Pereira caiu do telhado e Chaves resistiu à prisão.
O Ministério Público acusa o grupo de tê-los torturado. Chaves diz que foi jogado da escada e que apanhou no 1º Batalhão de Choque, enquanto Pereira afirma ter sido jogado do telhado. Os dois serão ouvidos na próxima audiência. (ALESSANDRO SILVA)


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