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POLÍCIA SOB SUSPEITA
Preso recrutado pela PM fazia ligações da carceragem do Dipo, em São Paulo, segundo tenente
Gradi teve "base" em órgão do Judiciário
DA REPORTAGEM LOCAL
O serviço de inteligência da Polícia Militar de São Paulo usou a
carceragem do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais),
órgão do Judiciário estadual, na
capital, como "base" para que
condenados recrutados em presídios pudessem ligar de telefones
celulares para criminosos.
A informação foi prestada ontem à Justiça pelo tenente Henguel Ricardo Pereira, um dos 13
ex-PMs do extinto Gradi (Grupo
de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância) denunciados
sob acusação de tortura -teriam
agredido dois ex-informantes.
Até agora, sabia-se somente que
presos recrutados tinham trabalhado para a inteligência da PM
no COC (Centro de Observação
Criminológica), da Secretaria da
Administração Penitenciária, e na
base do Gradi, da PM. Os detentos
eram retirados com autorização
do então juiz-corregedor dos presídios, Octávio Augusto de Barros
Filho.
Segundo o tenente, o assaltante
Marcos Massari vinha colaborando com o Gradi do COC, mas a
proximidade com os policiais poderia colocar sua vida em risco.
Assim, ele acabou sendo levado
para a carceragem do Dipo, de
onde "fazia algumas ligações".
""O trabalho era feito com o conhecimento do Comando da PM,
do Judiciário, do Ministério Público e da Secretaria da Administração Penitenciária", disse.
Barros Filho, que já disse à Folha não saber da infiltração de
presos, e o juiz responsável pelo
Dipo na época, Maurício Lemos
Porto Alves, foram afastados pelo
Tribunal de Justiça. Eles são investigados, com o secretário da
Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, por causa dessas
ações. A apuração segue há quase
um ano em segredo de Justiça no
TJ. Devido ao sigilo, os dois magistrados não falam do caso.
A atuação do Gradi contra o crime organizado, revelada pela Folha, chama a atenção pelas mortes: 27 em cinco ações de maior
repercussão. Apenas a suposta
tortura, que não questiona os métodos de investigação da unidade,
virou processo. Os informantes
faziam contatos e se infiltravam
com PMs em quadrilhas. Para isso, dormiam fora do presídio.
No interrogatório de ontem, os
13 PMs negaram ter agredido os
presos Ronny Clay Chaves e Rubens Leôncio Pereira, dois ex-informantes que fugiram em um
carro da corporação durante uma
missão. Segundo eles, quando da
recaptura, Pereira caiu do telhado
e Chaves resistiu à prisão.
O Ministério Público acusa o
grupo de tê-los torturado. Chaves
diz que foi jogado da escada e que
apanhou no 1º Batalhão de Choque, enquanto Pereira afirma ter
sido jogado do telhado. Os dois
serão ouvidos na próxima audiência.
(ALESSANDRO SILVA)
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