São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



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EDUCAÇÃO
Para ex-ministro, a administração federal deveria ter fechado faculdades com base nos resultados do provão
Controle do governo divide educadores

da Reportagem Local

O grau de rigor e controle do governo federal sobre as instituições que desejam se tornar universidades divide representantes tanto do setor público como do privado.
Para o ex-ministro da Educação (governo Collor) e ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo), José Goldemberg, o governo federal e o CNE (Conselho Nacional de Educação) deveriam ser mais exigentes antes dessa transformação.
"Eu prefiro ser extremamente rigoroso na concessão da licença e depois fazer uma verificação a cada cinco anos", afirma.
Segundo ele, as avaliações posteriores são limitadas. Na sua opinião, o provão, adotado no final do ano passado, deveria ter provocado o fechamento das instituições consideradas de baixa qualidade.
"Isso não foi feito, o provão não foi levado a suas últimas consequências", diz. "Eu acho que ele teria mais credibilidade se já tivesse fechado algumas faculdades."
O professor Rogério Meneghini, professor titular do Instituto de Química e ex-presidente da Comissão de Avaliação da USP, se diz mais liberal nesse aspecto.
Segundo ele, as limitações estão nas avaliações anteriores à concessão do título de universidade. "Toda essa cobrança a priori é absolutamente inútil", diz. "Há situações escabrosas, mas, no geral, eu seria mais flexível."
Meneghini diz que o nome "universidade" poderia ser "guardado" para depois de um determinado período. "Mas eu daria um crédito para que esses grupos operassem com flexibilidade."
O reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), José Martins Filho, diz que uma das deficiências dos exames de avaliação de cursos é o fato de não impedirem que a sociedade receba um profissional mal preparado.
"Preocupa-me o fato de o provão verificar que está ruim e deixar a pessoa exercer a profissão", diz Martins Filho. "O provão avalia o produto final, mas outras avaliações têm de ser feitas antes."
A ABM (Associação Brasileira de Mantenedoras) defende maior liberdade para o setor.
"O grande negócio é apostar na seriedade das pessoas", afirma o presidente da entidade e reitor da Universidade da Amazônia, Edson Franco, 60.
Franco diz que o governo deve concentrar a avaliação das novas universidades depois de esse título ser concedido. "Não tem como ser a priori mesmo, toda avaliação educacional tem que ser construtiva", afirma.
O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Ricardo Cappelli, 25, diz que nenhuma avaliação posterior terá condições de retirar um título de universidade. "Se não existe critério técnico para conceder o nome 'universidade', por que vai haver critério para retirar?" (ROGÉRIO SIMÕES)





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