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PASQUALE CIPRO NETO
Cromossomo e cromossoma
Leitores e amigos que viram a peça "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" ficaram
intrigados com a palavra "cromossoma", dita por vários dos
personagens do espetáculo. "Não
é "cromossomo'?", perguntaram.
Em vários dicionários (o "Michaelis", o de Caldas Aulete e o
"Aurélio", em edições anteriores à
última), só se dá "cromossomo".
O "Novo Aurélio Século XXI" e
o "Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa", da Academia Brasileira de Letras, registram as duas formas ("cromossomo" e "cromossoma").
O "Aurélio" dá estas definições
de "cromossomo": "1. Citol. Genét. Unidade morfológica e fisiológica, visível ou não ao microscópio óptico, e que contém a informação genética. Cada espécie vegetal ou animal possui um número constante de cromossomos.
2. Citol. Bioquím. Molécula linear, constituída por fibras cromatínicas compostas de DNA,
RNA e proteína, e que se tornam
extremamente compactas durante divisão celular".
A palavra vem do grego. Resulta de "cromo" + "somo". O elemento "cromo", de que são equivalentes "croma", "cromato", significa "cor", "pigmento", "tom".
"Somo", de que são equivalentes
"soma", "somato", significa "corpo", "matéria", "corpo humano".
Encontramos esses elementos
em termos técnicos como "heliocromia", "cromatina", "autossomo", "somatologia", "epissoma",
"microssomia", "alossomo" etc.
Cromossomo ou cromossoma,
vale a pena lembrar uma piadinha infame, que li há muito tempo na contracapa do segundo disco de Toquinho e Vinicius. Numa
mensagem ao poetinha, o violonista termina perguntando: "Sabe o que uma célula disse pra outra? Cromossomos felizes".
A Globo tem colocado na tela as
letras das músicas de seu festival.
Numa delas, foi possível ler "De
Pirituba à Santo André". Sabe-se
que o "à" é resultado de "a+a".
Quando se coloca o acento grave,
indica-se a ocorrência do fenômeno da crase (palavra grega, que
significa "fusão", "mistura").
"Santo André" é nome de cidade, e nomes de cidades rejeitam o
artigo feminino. Pedem-no, no
entanto, quando adjetivadas
("Ela nasceu na monumental Siena", "Apaixonei-me pela deslumbrante Verona"), mas não é esse o
caso na frase da música.
É evidente, pois, o erro em "De
Pirituba à Santo André". Se ninguém mora "na" Santo André, se
ninguém vem "da" Santo André,
se ninguém se apaixona "pela"
Santo André, ninguém vai de Pirituba "à" Santo André.
Até aí, tudo bem. Certamente
esse não terá sido o último erro no
emprego do pobre acento grave.
Nem o mais grave, com perdão
pelo trocadilho. O problema é que
o fato foi comentado na imprensa, e, para falar do erro, muita
gente meteu os pés pelas mãos.
Veja este caso: "Mesmo quando
a sorte fazia elas coincidirem com
a música, sobravam erros do tipo
"De Pirituba à Santo André". Com
crase? Não dá.".
No caso, "elas" são as legendas.
Ocorre que, na língua padrão,
ninguém "faz elas coincidirem".
Em casos como esse, deve-se empregar um pronome oblíquo ("o",
"a", "os", "as").
Vamos lá: "Mesmo quando a
sorte as fazia coincidir com a música...". É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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