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SAÚDE
Cerca de 100 mil pessoas morrem de trauma no país, 40 mil assassinadas; problema foi discutido em evento na Bahia
Vítima de acidente "congestiona" serviços
AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
As vítimas de traumas por acidentes de carro e armas de fogo
estão "congestionando" os serviços de pronto-socorro e sugando
mão-de-obra e recursos destinados à saúde.
Pelo menos 600 mil pessoas a
cada ano saem feridas, muitas
com sequelas graves, de batidas
de carro, brigas, tentativas de homicídio, acidentes de trabalho e
envenenamento. Oficialmente,
cerca de 110 mil morrem de trauma a cada ano no país, 40 mil delas assassinadas. Se os profissionais, leitos, tomógrafos e ressonâncias magnéticas envolvidas no
socorro a essas vítimas fossem
deslocados para outros tratamentos, a fila das cirurgias eletivas,
por exemplo, seria reduzida para
menos de um terço.
O mais grave é que esse número
de vítimas vem crescendo a uma
taxa de 2% a 3% ao ano. São Paulo
registra o maior crescimento,
com um aumento anual de 3%,
seguido de Vitória, Recife, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Nessas
cidades, pelo menos a metade dos
leitos de UTI de neurologia está
ocupada por vítimas de traumas.
A tragédia do trauma no país foi
lembrada ontem durante o 6º
Congresso Brasileiro de Saúde
Coletiva, que acontece em Salvador. Os dados são do Ministério
da Saúde, mas o alerta foi feito pela nova direção da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), que toma posse hoje.
A associação, que reúne mais de
2.000 profissionais e entidades de
graduação e pós-graduação que
pesquisam e lidam com saúde coletiva, elegeu a violência e os acidentes como prioridades de
emergência.
"O trauma é hoje a principal
causa de redução de anos de vida
do brasileiro", disse José Carvalho
de Noronha, do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que assume hoje a direção da Abrasco.
Paulo Eduardo Elias, do Departamento de Medicina Preventiva
da Faculdade de Medicina da
USP, diz que a guerra ganha contra as doenças infecto-contagiosas nos últimos 30 anos está sendo
perdida para os acidentes e agressões interpessoais. "O Brasil está
caindo no Índice de Desenvolvimento Humano por conta dos
anos de vida perdidos com o trauma", disse Elias.
No quesito violência e acidentes, o Brasil só perde para a Colômbia na América Latina. "No
mundo, estamos no nível da África do Sul", diz Noronha. A Organização Panamericana da Saúde
já conferiu à violência o status de
principal epidemia latino-americana.
Tão grave quanto o cenário do
trauma é a falta de pesquisas nessa área no país. "Pretendemos
criar centros de pesquisa multidisciplinar com participação de
médicos, engenheiros, sociólogos
e economistas para entender melhor as causas dos acidentes e da
violência e poder agir nas suas
origens", diz Elias.
Na abertura do congresso, na
noite anterior, o ministro José
Serra, da Saúde, anunciou a criação de uma agência nacional de
pesquisas em saúde que, de início,
já receberá R$ 150 milhões.
"Vamos defender a realização
de pesquisas que possam trazer
resultados práticos na questão do
trauma", disse Noronha.
Outra prioridade eleita pela
Abrasco é a redução das desigualdades na saúde. O desafio é que as
causas estão no desemprego, na
falta de saneamento básico e no
acesso à educação.
A relação entre essas condições
e o aumento de vítimas do trauma
é direta. De acordo com estudos
do Banco Mundial, a maior distância econômica entre as classes
está entre as principais causas da
violência.
O jornalista Aureliano Biancarelli viajou
a convite da direção da Abrasco
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