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SS REFÉM
Com duas armas, Fernando exigiu mudar do cômodo em que mantinha apresentador refém; para a polícia, o apresentador de TV, mesmo sob ameaça, envolveu rapaz e facilitou negociação
Sequestrador ameaçou matar Silvio
DA REPORTAGEM LOCAL
Silvio Santos fazia exercícios na
esteira, como em toda manhã, na
sala de ginástica da casa. Teve a
atenção atraída por uma voz masculina que anunciava ser o sequestrador de sua filha. Era Fernando Dutra Pinto, já dentro da
casa da família, gorro na cabeça e
duas armas nas mãos. O sequestrador voltara ao local do crime,
fato inédito para a polícia.
O apresentador estava sozinho
no subsolo da casa. Vestia camiseta e calção. Sua mulher, Íris, suas
quatro filhas, e uma amiga das
meninas ainda estavam nos quartos, dois pavimentos acima. Na
cozinha, no térreo, os funcionários, que nada perceberam.
Silvio desceu da esteira. Sentou.
O sequestrou pediu ajuda e lamentou os erros que cometera na
noite interior, ao enfrentar a polícia e matar dois investigadores.
Disse ter medo dos policiais e de
sofrer represálias por isso.
O diálogo foi ouvido pelo carpinteiro Francisco de Assis do
Nascimento, 49, que trabalhava
no quintal da casa ao lado. "Ele
chegou a dizer que ia pedir um
helicóptero para fugir", narrou.
A conversa, calma, foi interrompida. Um policial estava na
sala. Entrara pela porta lateral.
Era o tenente Marcos Henrique
da Silva. Foi um dos momentos
mais tensos das sete horas da
ação. A casa estava cercada e seria
ocupada em minutos.
O comportamento do sequestrador mudou. Tornou-se agressivo. Tentou subir as escadas para
chegar à família. O policial pediu
calma. Fernando parou na cozinha e trancou-se com o refém.
Íris, suas filhas e a amiga delas
eram retiradas dos quartos por
uma escada. Os funcionários, pela
porta lateral. Correram de pijama
e chinelo pela rua, por 200 metros.
Levaram o poodle da casa.
Na cozinha, Fernando ligou a
TV. Os policiais descobriram e
pediram para as emissoras não
filmarem o telhado da casa do vizinho. Lá estavam os atiradores
de elite -pelo menos dois. Os curiosos se aglomeravam na rua.
Aos gritos, Fernando fixava o
preço do resgate: a garantia de
que sairia vivo. Desistira do helicóptero. Queria o governador ali,
e a Polícia Civil bem longe da casa.
A cozinha tinha portas e janelas
trancadas. Os policiais não viam o
que acontecia lá dentro. Conversavam sempre gritando.
Silvio dizia que sairiam juntos
da cozinha para que nada de mal
acontecesse. Quebrava a lógica silenciosa dos sequestrados. Isso foi
determinante para o sucesso da
ação, diria mais tarde a polícia.
Os negociadores foram chegando, entre eles o comandante-geral
da PM, Rui César Melo, e o juiz-corregedor Maurício Porto Alves.
Silvio deu sinais de cansaço, temia pela pressão -que costuma
subir. Fernando sentia fome. Estava baleado e tinha dormido no
mato, escondido em um terreno
perto dali. Pediu um lanche. Ele
veio. Silvio insistia para receber
um médico. Demorou para convencer Fernando, mas conseguiu.
A pressão estava normal: 12 por 8.
O comportamento de Fernando
oscilava. De repente, decidiu que
queria ir para o quarto. Foi o segundo momento de tensão.
""Eu sei quem está aqui [como
refém", e vocês não vão querer
manchar o currículo de vocês",
disse Fernando aos policiais, exigindo a mudança de cômodo.
""Não permitimos a mudança
porque envolve muito risco", disse o capitão Diógenes Lucca, 37,
um dos negociadores.
Fernando ameaçou matar Silvio. Trazia à mão, todo o tempo,
uma pistola 380 e um revólver calibre 38 carregados, armas que
provavelmente usou para assassinar dois policiais em Barueri.
Silvio fez Fernando mudar de
idéia. Ficaram na cozinha. O apresentador decidiu ajudar a atender
a um pedido do sequestrador: ligou para o secretário da Segurança Pública e pediu que o governador Geraldo Alckmin fosse ao local. Alckmin chegou em minutos.
Desceu de helicóptero no colégio
Pio 12 -que dispensou os alunos
e serviu de base de pouso.
Silvio conquistou a confiança de
Fernando. Para os negociadores,
ele já gritava: "O que o Silvio decidir, está decidido". Decidiu-se
que Fernando teria as exigência
atendidas. Tomou banho, ganhou
roupas do apresentador, pediu
perdão ao pai e saiu algemado.
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