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SS REFÉM
Para especialistas, o processo de negociações deveria ter sido conduzido por policial treinado; presença do governador e de Petrelluzzi na casa de Silvio Santos expôs a segurança de ambos
Participação de Alckmin é criticada
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
Especialistas criticaram o processo de negociação da polícia
com o sequestrador Fernando
Dutra Pinto. Ouvidos pela Folha,
eles afirmam que a negociação
não deveria ter sido conduzida
pelo comandante-geral da PM
nem por outras autoridades.
José Vicente da Silva, coordenador de segurança do Instituto Fernand Braudel, afirmou ontem
que a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do comandante da PM na casa do apresentador Silvio Santos não foi decisiva na resolução do caso e só
aumentou o risco na negociação.
"A presença de altas autoridades é uma coisa descabida. Desmoraliza o policial que está negociando e atrapalha as negociações
e o trabalho tático", afirmou. Para
ele, são os policiais especialistas
que devem controlar a situação.
"Com as autoridades ali, os especialistas perdem a autonomia e o
risco aumenta."
Para ele, a presença de Alckmin
e do comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Rui Cesar Melo, aumentou os riscos da
operação porque expôs, além da
vítima, as altas autoridades, que
poderiam ser atingidas em uma
possível tiroteio, por exemplo.
José Vicente também afirmou
que a intervenção de Alckmin
criou um precedente perigoso.
"Agora, outros sequestradores
podem se achar no direito de fazer a mesma coisa", disse.
Segundo o instrutor de ações táticas Lincoln Tendler, que fez curso na Swat, o governador jamais
deveria ter ido ao local. "Ele é a última instância. Se ele disser não
posso, pode criar um impasse.
Tem que haver sempre alguém
para quem pedir [acima do negociador"", disse.
Para o especialista em segurança pessoal e empresarial Hekel
Raposo, 70, a presença de autoridades, como o governador ou o
secretário da Segurança Pública, é
um recurso extremo em casos de
sequestro, pois pode comprometer o sucesso do resgate se houver
necessidade de uma ação de
emergência.
"Foi sorte não ter acontecido
nada mais grave. Uma autoridade
no local só em último caso, quando as negociações estão esgotadas", afirmou.
Raposo é vice-presidente do
Conselho Empresarial de Segurança Pública da Associação Comercial do Rio e coordenador do
curso de Gestão de Segurança da
Universidade Estácio de Sá, no
Rio. Ele também criticou a ausência de policiamento preventivo na
casa de Silvio Santos.
"Como o sequestrador não tinha sido preso, é óbvio que você
deveria continuar acautelando a
segurança da família. Inclusive
houve um telefonema do sequestrador para o próprio Silvio Santos, dizendo que estava sendo
acuado. É mais uma razão para
que a segurança da família fosse
reforçada", disse.
Raposo também criticou a presença do governador e outras autoridades no local do sequestro.
"É um último recurso. Se houvesse alguma reação inesperada
do sequestrador, a ação da polícia
seria altamente prejudicada. Com
a presença do governador, do secretário da Segurança, do comandante da Polícia Militar, todos ficam vulneráveis. Isso tem de ser
feito em último recurso, e pode
ter sido o caso, mas é um risco
muito grande. Para o sequestrador, não vai fazer diferença se matou dois ou dez, ele vai cumprir 30
anos do mesmo jeito. Foi sorte
não ter acontecido nada mais grave", disse.
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