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TRANSPORTE
Focos de fogo e fumaça nos trilhos obrigaram trem a parar; passageiros saíram por corredor de emergência
Mulher morre após incêndio no metrô
PALOMA COTES
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma mulher morreu, supostamente por intoxicação, e pelo menos 26 pessoas foram atendidas
em hospitais, ontem pela manhã,
por causa de um princípio de incêndio na linha mais movimentada do Metrô de São Paulo, minutos antes do horário de pico. Os
focos de fogo foram provocados
pelo rompimento de um cabo que
leva energia aos trilhos. Em 27
anos de existência da companhia,
é a primeira morte ocorrida em
razão de falhas no sistema.
Os problemas na linha 3-vermelha (Leste/Oeste), que liga as estações Corinthians-Itaquera e Barra
Funda, começaram a ser detectados às 4h45, cinco minutos depois
do início de circulação dos trens.
Nesse momento, funcionários viram focos de incêndio perto das
estações Itaquera e Santa Cecília.
O serviço foi suspenso nesses
trechos até as 5h05, sendo retomado após a realização de vistorias, já que não foram detectadas
anormalidades. Um minuto depois, houve uma nova interrupção parcial. Às 5h17, a composição 303, onde estavam todas as vítimas, parou entre as estações
Marechal Deodoro e Barra Funda, depois de seu condutor passar
uma informação ao CCO (Centro
de Controle Operacional) de que
havia muita fumaça e que não era
possível prosseguir a viagem.
Segundo a companhia, em dias
úteis, por volta das 5h15, de 3.000
a 5.000 usuários costumam circular nas composições e plataformas da linha 3-vermelha.
Os passageiros ficaram cerca de
três minutos dentro dos vagões,
segundo a empresa. Em seguida,
acionaram os botões de emergência para abrir as portas. Houve
correria. Dois seguranças do Metrô se dirigiram ao local para ajudar no resgate. Todos voltaram à
plataforma da estação Marechal
Deodoro andando por um corredor lateral de emergência, em
meio à fumaça.
Eles foram atendidos por funcionários na estação, que prestaram os primeiros-socorros. As vítimas tossiam muito. Algumas
chegaram a vomitar e permaneceram deitadas no chão.
Maria Doralice Ramos Souza
disse que andou, desesperada,
sem olhar para trás. "Era um cheiro muito forte. Havia uma claridade, mas não sabíamos se era fogo", afirmou. As pessoas que precisaram de atendimento foram levadas aos hospitais em veículos
do próprio Metrô.
Maria Eroina da Silva, 56, chefe
de limpeza da indústria de componentes eletrônicos CCE, saiu
com vida da estação do Metrô,
mas morreu após dar entrada na
Santa Casa de Misericórdia. Maria, que estava indo ao trabalho
no momento do acidente, chegou
ao pronto-socorro com parada
cardiorrespiratória.
O Metrô diz que ela não resistiu
à intoxicação, mas os laudos do
IML (Instituto Médico Legal) sobre a causa da morte só devem
sair daqui a 30 dias. Maria tinha
problemas respiratórios.
Das demais 26 vítimas, 21 foram
também para a Santa Casa e 5, para o pronto-socorro da Barra
Funda. Elas acabaram sendo liberadas no final da manhã, depois
de passar por inalação. Quatro
chegaram a ficar em observação,
mas, após exames radiológicos,
receberam alta.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por funcionários do Metrô
às 5h20. Treze minutos depois,
chegaram os primeiros dos seis
carros enviados. O fogo não se
alastrou, mas eles só deixaram a
estação às 6h59, depois de apagar
todos os focos.
O diretor de operação da Companhia do Metropolitano, Décio
Tambelli, afirmou que houve problemas no cabo de 750 volts que
transmite energia aos trilhos porque a capa de material sintético
que funciona como isolante se
rompeu. Essa teria sido a motivação dos curtos-circuitos e dos focos de incêndio que atingiram os
trilhos em diferentes pontos da
via. "Houve uma fuga de corrente,
que começa a vazar do cabo para
a estrutura", disse.
Ele ainda não sabe dizer, porém,
quais foram as causas desse rompimento. Segundo Tambelli, esse
tipo de problema acontece, no
máximo, uma vez por ano. "Já tivemos cabos rompidos por roedores, por exemplo", afirmou.
O problema prejudicou pelo
menos 300 mil passageiros que
seriam transportados na linha
Leste/Oeste ontem de manhã. O
serviço nessa ligação ficou totalmente interrompido até as 9h57,
quando houve a liberação entre as
estações Itaquera e Santa Cecília.
Apenas às 12h57 houve a normalização nos trechos restantes.
Os usuários das outras linhas do
Metrô (Paulista e Norte/Sul) também foram afetados indiretamente. Os trens dessas ligações chegaram a operar com restrições de
velocidade.
A SPTrans (São Paulo Transporte) montou um sistema com
ônibus gratuitos para transportar
os usuários do Metrô entre as estações. A Secretaria Municipal
dos Transportes também suspendeu, durante o dia inteiro, o rodízio de veículos.
A linha 3-vermelha tem 18 estações, distribuídas em 22 km de
via. Ela começou sua operação comercial em 1979 e, hoje, transporta quase 50% dos 2,5 milhões de
passageiros diários de metrô.
Os cabos entre Marechal Deodoro e Barra Funda estão nesse
trecho desde 1982 e, segundo
Tambelli, são os mais novos dessa
linha. O diretor de operação diz
que a vida útil desses cabos é de,
no mínimo, 30 anos.
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