São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2001

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TRANSPORTE

Focos de fogo e fumaça nos trilhos obrigaram trem a parar; passageiros saíram por corredor de emergência

Mulher morre após incêndio no metrô

PALOMA COTES
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mulher morreu, supostamente por intoxicação, e pelo menos 26 pessoas foram atendidas em hospitais, ontem pela manhã, por causa de um princípio de incêndio na linha mais movimentada do Metrô de São Paulo, minutos antes do horário de pico. Os focos de fogo foram provocados pelo rompimento de um cabo que leva energia aos trilhos. Em 27 anos de existência da companhia, é a primeira morte ocorrida em razão de falhas no sistema.
Os problemas na linha 3-vermelha (Leste/Oeste), que liga as estações Corinthians-Itaquera e Barra Funda, começaram a ser detectados às 4h45, cinco minutos depois do início de circulação dos trens. Nesse momento, funcionários viram focos de incêndio perto das estações Itaquera e Santa Cecília.
O serviço foi suspenso nesses trechos até as 5h05, sendo retomado após a realização de vistorias, já que não foram detectadas anormalidades. Um minuto depois, houve uma nova interrupção parcial. Às 5h17, a composição 303, onde estavam todas as vítimas, parou entre as estações Marechal Deodoro e Barra Funda, depois de seu condutor passar uma informação ao CCO (Centro de Controle Operacional) de que havia muita fumaça e que não era possível prosseguir a viagem.
Segundo a companhia, em dias úteis, por volta das 5h15, de 3.000 a 5.000 usuários costumam circular nas composições e plataformas da linha 3-vermelha.
Os passageiros ficaram cerca de três minutos dentro dos vagões, segundo a empresa. Em seguida, acionaram os botões de emergência para abrir as portas. Houve correria. Dois seguranças do Metrô se dirigiram ao local para ajudar no resgate. Todos voltaram à plataforma da estação Marechal Deodoro andando por um corredor lateral de emergência, em meio à fumaça.
Eles foram atendidos por funcionários na estação, que prestaram os primeiros-socorros. As vítimas tossiam muito. Algumas chegaram a vomitar e permaneceram deitadas no chão.
Maria Doralice Ramos Souza disse que andou, desesperada, sem olhar para trás. "Era um cheiro muito forte. Havia uma claridade, mas não sabíamos se era fogo", afirmou. As pessoas que precisaram de atendimento foram levadas aos hospitais em veículos do próprio Metrô.
Maria Eroina da Silva, 56, chefe de limpeza da indústria de componentes eletrônicos CCE, saiu com vida da estação do Metrô, mas morreu após dar entrada na Santa Casa de Misericórdia. Maria, que estava indo ao trabalho no momento do acidente, chegou ao pronto-socorro com parada cardiorrespiratória.
O Metrô diz que ela não resistiu à intoxicação, mas os laudos do IML (Instituto Médico Legal) sobre a causa da morte só devem sair daqui a 30 dias. Maria tinha problemas respiratórios.
Das demais 26 vítimas, 21 foram também para a Santa Casa e 5, para o pronto-socorro da Barra Funda. Elas acabaram sendo liberadas no final da manhã, depois de passar por inalação. Quatro chegaram a ficar em observação, mas, após exames radiológicos, receberam alta.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por funcionários do Metrô às 5h20. Treze minutos depois, chegaram os primeiros dos seis carros enviados. O fogo não se alastrou, mas eles só deixaram a estação às 6h59, depois de apagar todos os focos.
O diretor de operação da Companhia do Metropolitano, Décio Tambelli, afirmou que houve problemas no cabo de 750 volts que transmite energia aos trilhos porque a capa de material sintético que funciona como isolante se rompeu. Essa teria sido a motivação dos curtos-circuitos e dos focos de incêndio que atingiram os trilhos em diferentes pontos da via. "Houve uma fuga de corrente, que começa a vazar do cabo para a estrutura", disse.
Ele ainda não sabe dizer, porém, quais foram as causas desse rompimento. Segundo Tambelli, esse tipo de problema acontece, no máximo, uma vez por ano. "Já tivemos cabos rompidos por roedores, por exemplo", afirmou.
O problema prejudicou pelo menos 300 mil passageiros que seriam transportados na linha Leste/Oeste ontem de manhã. O serviço nessa ligação ficou totalmente interrompido até as 9h57, quando houve a liberação entre as estações Itaquera e Santa Cecília. Apenas às 12h57 houve a normalização nos trechos restantes.
Os usuários das outras linhas do Metrô (Paulista e Norte/Sul) também foram afetados indiretamente. Os trens dessas ligações chegaram a operar com restrições de velocidade.
A SPTrans (São Paulo Transporte) montou um sistema com ônibus gratuitos para transportar os usuários do Metrô entre as estações. A Secretaria Municipal dos Transportes também suspendeu, durante o dia inteiro, o rodízio de veículos.
A linha 3-vermelha tem 18 estações, distribuídas em 22 km de via. Ela começou sua operação comercial em 1979 e, hoje, transporta quase 50% dos 2,5 milhões de passageiros diários de metrô.
Os cabos entre Marechal Deodoro e Barra Funda estão nesse trecho desde 1982 e, segundo Tambelli, são os mais novos dessa linha. O diretor de operação diz que a vida útil desses cabos é de, no mínimo, 30 anos.


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