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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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PATRIMÔNIO

Uma construção holandesa do século 17 foi descoberta dentro de uma fortificação portuguesa em Itamaracá

Em Pernambuco, um forte encobre outro

DO ENVIADO ESPECIAL

Um forte holandês de terra foi achado dentro de um forte português de pedra, junto com cerca de 400 mil artefatos. Trata-se da maior pesquisa arqueológica já feita em um forte no Brasil, realizada pela equipe de Marcos Albuquerque, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), no Forte de Orange, em Itamaracá, a 47 km a norte de Recife.
O forte foi criado pelos holandeses depois que tomaram Itamaracá em 1631. A pesquisa arqueológica foi financiada pelos governos do Brasil e Holanda.
Assim como a fortaleza de São José de Macapá, o forte de Orange tinha e tem a forma quadrada com quatro baluartes nos cantos.
Foram achados milhares de cachimbos e de pedaços de cerâmica, além de armas, munições e esqueletos. Na capela do forte, foi achado o corpo de um oficial, provavelmente português (era católico, estava com um rosário no peito), com 1,80 metro -sem dúvida, uma raridade, pois os portugueses da época colonial eram notoriamente baixos.
Entre as descobertas, está uma rara lâmina de alabarda e uma curiosa bala "enramada" para mosquete. São duas balas ligadas por um arame, na teoria -algo duvidosa- de que ao disparar elas rodopiariam "Nem em Portugal eles acharam algo parecido", diz Albuquerque. As escavações também encontraram os alicerces dos quartéis holandeses, que ficavam mais para dentro do forte.
Foram achados tijolos holandeses, que vieram como lastro a bordo de navios e foram usados nas construções dos prédios.
Em breve, Albuquerque e equipe deverão estar em Macapá.
Se há um forte no Brasil querido pelas autoridades, estaduais e municipais, é a Fortaleza de São José de Macapá. A planta desse forte colonial está na própria bandeira do Estado do Amapá.
O trabalho de restauração se iniciou em 1997, concentrando-se na área interna. O paisagismo começou dois anos depois. Até agora, as obras não terminaram, como resultado da tradicional falta de continuidade administrativa do serviço público brasileiro.
"Trabalhamos com três governos estaduais diferentes. O parque que tinha sido inaugurado em outubro de 2002 agora está fechado", diz Gláucia Dias Pinheiro, arquiteta do escritório de paisagismo Rosa Kliass.
São José chegou a ter 60 canhões, um número formidável para uma obra de defesa em uma parte distante da colônia. A fortaleza foi construída de 1764 a 1782.
As estruturas encontradas constam das plantas antigas e agora voltam a ver a luz do dia graças aos arqueólogos. São elementos de arquitetura militar com nomes exóticos como "contra-escarpa", "redente", "contraguarda", que agora foram resgatados.
"Os resultados dessas pesquisas implicaram outras indicações com relação as obras externas de paisagismo", afirma Dorotéa Lima, funcionária da regional do Iphan em Belém, que também cuida de Macapá. (RBN)


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