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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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História de forte se mistura à de Belém

DA REPORTAGEM LOCAL

A história do Forte do Presépio de Belém, depois também chamado Forte do Castelo do Senhor Cristo, se confunde com a da história da capital paraense. Francisco Caldeira de Castello Branco fundou a cidade em 1616. O primeiro edifício da capital do Pará foi um pequeno forte de taipa.
Como todo forte colonial brasileiro, o do Castelo foi periodicamente abandonado e recuperado, conforme as ameaças estrangeiras ao país e também com a disponibilidade de recursos -em geral, pequena.
No século 19, o forte teve sua forma arredondada e foi criado um "cavaleiro", uma plataforma para canhões mais elevada que o resto da fortificação.
Um fato altamente positivo da restauração foi a descoberta de uma bateria baixa para canhões no local onde antigamente estava o restaurante do Círculo Militar. O prédio espúrio foi derrubado e foram achados não só a bateria como alguns canhões antigos.
A descoberta mostra que o Império já tinha uma grande preocupação com a Amazônia.
"A descoberta da bateria baixa foi da maior importância. Considerando quão poucos fortes foram reformados na época da Questão Christie e que a bateria foi construída em 1869 -seis anos depois da questão-, isso dá uma nova visão sobre a importância relativa de Belém", afirma o historiador Adler Homero Fonseca de Castro.
A Questão Christie foi um conflito diplomático com o Reino Unido que revelou a vulnerabilidade do país à "diplomacia das canhoneiras".
A descoberta implicou mudança no projeto de paisagismo.
Outra interessante descoberta acabou sendo reenterrada. Foram achadas partes dos antigos muros do século 17, mas que depois foram recobertos com terra e grama. Esse aterro foi feito até uma altura exagerada, eliminando a diferença de altura do cavaleiro para o resto do forte.
"Destruíram uma característica arquitetônica que, se não é única, é bastante rara. Não entendi também o porque do uso da grama na estrada coberta. Não tem nada a ver com o forte original", afirma o historiador.
Também foi achado um forno de balas ardentes, raríssimo no país (só há vestígios de um na fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, segundo Fonseca de Castro). Trata-se de um forno no qual as balas sólidas de ferro eram esquentadas para serem disparadas incandescentes para incendiar navios.
O trabalho arqueológico também encontrou os restos de uma curiosa casa de pólvora de forma circular, que as plantas antigas já mostravam. Outro achado foram os canhões da bateria baixa.
Apesar de uma fortaleza ser feita para abrigar canhões, ironicamente eles não são tombados conjuntamente. (RBN)


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