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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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ENTREVISTA

"Ordem" da categoria teria mais força, diz conselheiro eleito

Cremesp quer órgão médico único

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Oito chapas participaram das eleições do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) realizadas nos dias 21 e 22. Nunca houve tantos concorrentes. Os grupos perdedores afirmam que a dispersão revela uma divisão e um descontentamento da classe, especialmente quanto aos baixos salários, condições de trabalho e a submissão aos planos de saúde.
A chapa vencedora -a 4, ou "unidade médica"- viu nos muitos concorrentes um desejo maior de participação do médico. Dos 83 mil médicos aptos a votar no Estado, votaram 54 mil. A chapa 4 ficou com 31,33% dos votos, seguida da 2, com 18,71%.
"Nossa intenção é aproximar o conjunto das entidades médicas, formando uma instituição única", diz o obstetra e especialista em saúde coletiva Eurípedes Carvalho, 50, que já presidiu o Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Médicos.
Carvalho faz parte da atual equipe eleita, composta por 40 conselheiros. Entre eles, 17 participam do atual conselho, o que significa uma espécie de continuísmo. O grupo, que presidirá o Cremesp até o final de setembro, já está no poder há duas gestões, num total de dez anos.
Cabe à equipe eleita, escolher agora a composição da diretoria que poderá se revezar ao longo dos próximos cinco anos.
Abaixo, trechos da entrevista com Eurípedes Carvalho.
 

Folha - Se vocês representam a situação, o que pode mudar na gestão que vai começar?
Eurípedes Carvalho -
Nós consideramos que a chapa atual vinha fazendo um bom trabalho, mas que precisa ser aperfeiçoado. A chapa vencedora tem a experiência da que sai e uma renovação de 60%. Ela surgiu da união dos diretores de entidades como o próprio Cremesp, a Associação Paulista de Medicina, a Academia de Medicina de São Paulo, a Associação Médica Brasileira e o Sindicato dos Médicos. Essa parceria já existia nas gestões passadas.

Folha - O senhor falou da criação de uma entidade única dos médicos. Como seria?
Carvalho -
A idéia é reunir o conselho, o sindicato, a Associação Paulista de Medicina, enfim, todas as entidades médicas numa só instituição, a exemplo do que acontece com a Ordem dos Advogados do Brasil. As entidades continuariam mantendo suas especificidades e suas funções previstas em lei. Por exemplo, o conselho não abrirá mão da sua missão de fiscalizar o exercício profissional. O sindicato cuidará das questões trabalhistas. Mas, unificado, esse "conselho médico" ou "ordem dos médicos" teria muito mais força e facilidade de atuação.

Folha - Os conselhos são estabelecidos por lei, por isso essa suposta junção necessitará de um aval nacional?
Carvalho -
O sistema é federal, por isso qualquer mudança terá que ser discutida por médicos de todo o país.

Folha - Os baixos salários e as precárias condições de trabalho apareciam nas propostas e queixas de todas as chapas concorrentes. Como vocês irão tratar essa questão?
Carvalho -
Seria, em princípio, um problema sindical, mas nossa intenção é trabalhar em conjunto. Já fizemos levantamentos mostrando a situação de trabalho nos hospitais. No momento, há uma greve no Estado e uma crise no hospital Emílio Ribas. Na quinta-feira, houve um encontro de todas as entidades médicas cuja pauta eram salários, relacionamento com os prestadores de serviço e planos de saúde.

Folha - Quais são as outras prioridades dessa chapa?
Carvalho -
Vamos nos opor à abertura de qualquer nova escola de medicina. No momento, há quatro planejando abertura. O Estado de São Paulo tem 1 médico para 400 habitantes, a capital tem 1 para 270, um exagero. Não precisamos de mais médicos, precisamos de melhores médicos.
Por isso mesmo, queremos um controle sobre a qualidade do ensino médico de forma que o profissional e a profissão possam recuperar sua imagem e credibilidade diante da sociedade. Também vamos criar um instituto de previdência para o médico, não só para a aposentadoria, mas para a eventualidade de cair doente.


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