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PF prende 28% dos fiscais do Ibama no RJ
Eles são acusados de vender laudos para obras em áreas de proteção ambiental e de extorquir dinheiro de pescadores
Ação resultou na prisão de 24 dos 87 agentes do órgão ambiental em atividade no Estado; há empresários entre os presos
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia Federal prendeu
ontem 24 dos 87 fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) que trabalham no Estado do Rio. Responsáveis por fiscalizar crimes
ambientais, eles são acusados
justamente de vender laudos liberando construções ilegais em
áreas protegidas e de cobrar
propina de pescadores em situação irregular.
O número de fiscais presos
corresponde a 27,59% da categoria em todo o Estado. Dos 24
presos, 13 trabalham no município do Rio, onde o Ibama tem
40 fiscais. Ou seja, na capital
fluminense, foram presos
32,5% dos fiscais a serviço do
órgão ambiental federal.
A ação da PF teve o apoio do
Ibama e do Ministério do Meio
Ambiente. A ministra Marina
Silva e o presidente do órgão,
Marcus Barros, foram ao Rio de
Janeiro anteontem para acompanhar o trabalho dos 200 policiais federais destacados para
cumprir 32 mandados de prisão e 36 de busca e apreensão
expedidos pela Justiça Federal
em São João de Meriti (cidade
na Baixada Fluminense).
Foram realizadas 31 prisões.
Além dos fiscais, a PF prendeu
três empresários de consultoria ao setor imobiliário, dois comerciantes envolvidos com a
venda de sardinha e de camarão e duas mulheres de funcionários do Ibama.
A Polícia Federal recusou-se
a fornecer os nomes das empresas que teriam comprado os
laudos ambientais fraudulentos. Informou apenas que um
dos fiscais que foram presos
chefiava o escritório do Ibama
em Cabo Frio (cidade litorânea
a 155 km do Rio).
Os detidos são acusados de
corrupção ativa e passiva, violação do sigilo funcional, formação de quadrilha, concussão e
crimes ambientais. O delegado
Alexandre Saraiva afirmou que
as fraudes aconteceram principalmente em municípios turísticos do Estado, como Cabo
Frio, Angra dos Reis (a 150 km
do Rio) e Niterói (a 15 km).
Construções
Em troca de dinheiro, os fiscais emitiam laudos liberando
construções em áreas de proteção ambiental. Isso teria acontecido muito na região oceânica de Niterói, em torno das lagoas de Itaipu e Piratininga. Os
condomínios já construídos serão derrubados, afirmou o presidente do Ibama.
Na baía de Angra dos Reis, os
fiscais eram subornados para
permitir que pescadores de camarão e, principalmente, sardinha atuassem na época de procriação das espécies. A pesca é
vetada no período reprodutivo.
O delegado disse não saber
quanto os fiscais levavam dos
empresários, dos pescadores e
dos donos de construções irregulares. Disse ser "razoável" a
estimativa de que recebiam de
R$ 500 a R$ 200 mil.
Ele afirmou apenas que um
fiscal, ao aprovar um loteamento na Baixada Fluminense (região metropolitana), recebeu
um terreno como pagamento.
A operação foi batizada de
Euterpe, referência ao gênero
do qual fazem parte os principais palmitos, na definição do
presidente do Ibama. Ele disse
que os fiscais acusados serão
investigados em processos administrativos e deverão ser demitidos do serviço público.
A Euterpe foi a 12ª operação
de ações repressivas realizadas
em parceria entre a Polícia Federal e o Ibama contra quadrilhas que atuam de maneira organizada na área ambiental.
Foi também a mais expressiva
iniciativa contra crimes ambientais fora da Amazônia Legal e se desenvolveu na esteira
de outras ações da mesma natureza, como as operações Curupira, Ouro Verde, Trinca-Ferro, Novo Empate e Isaías.
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