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VIOLÊNCIA 2
Para Szajman, polícia precisa se 'mostrar mais'
Debatedor sugere
proibição total
da Reportagem Local
Neste trecho
do debate, os
participantes
apresentam
propostas para
desarmar a população e chegam a cogitar a
possibilidade de uma restrição total ao porte de armamentos.
Folha - Até que ponto a campanha pelo desarmamento terá resultado? Vai ser necessário que
nós tenhamos uma legislação ainda mais dura, que chegue à proibição total do porte de arma?
Santos Jr. - Eu vejo estudiosos
apontando para a restrição total.
Resta ver como a lei resultará em
eficiência nos primeiros momentos. Se os níveis de concessão de
porte e registro de armas se mantiverem baixos, isso implica que a
lei, sozinha ou somada à campanha, é eficiente, e a sociedade não
perseguirá uma restrição total.
Mas, se o nível de fornecimento
de portes crescer, associado a um
crime mais impactante, é possível
que seja cobrada a vedação total.
Tenho a impressão que, se a lei
continuar nos limites atuais, de
poucos portes de armas sendo registrados, é possível que a sociedade se contente, ainda mais com os
efeitos da campanha. Resta ver como a sociedade se porta agora.
Cappelli - A maioria esmagadora
das armas hoje não é registrada e o
dono não possui porte. Quer dizer,
se você apertar a legislação e proibir a posse das armas, você não diminui o número delas a índices relevantes. Hoje, as pessoas já têm
armas e desconhecem a lei.
Tuma - Tanto é que, quando essa
legislação foi discutida, foi dada
uma carência de seis meses, praticamente uma anistia para estimular a procurar a autoridade competente para o registro.
Cappelli - Por mais que tente
apertar ou criar qualquer tipo de
cerco em função da legislação, você não tem alteração relevante nos
índices de armas que estão na mão
da população. Aí eu vou voltar
àquela questão; precisa ser discutido o que está levando a população
a se armar. Por que você tem hoje
tanta gente armada, não só nas periferias, mas também nos centros
das grandes cidades? As pessoas se
sentem inseguras com relação à
questão da violência. A exclusão
social precisa ser discutida, você
tem pessoas fora das escolas.
Tuma - Eu acho que na proibição
total às armas você vai ter, como
há hoje, algumas centenas de milhares de armas clandestinas...
Santos Jr. - Vamos viver uma espécie de lei seca das armas?
Tuma - É, não há dúvida. Hoje,
quando se fala em descriminalizar
alguns tipos de drogas, que a gente
reage muito, a base é essa. Tudo
que a lei proíbe é como uma panela
de pressão. Se você não tem uma
válvula, o cidadão vai tentar explodir da forma que ele conseguir.
Hoje em dia, você não pode proibir. Os fabricantes de arma estão aí
para investir milhões. Tanto é que
as guerras regionais acabam e eles
criam outras, é um fator econômico forte. Eles vão sempre procurar
subterfúgios para poder colocar
sua mercadoria no mercado.
Folha - Os senhores teriam propostas para, em primeiro lugar,
convencer o cidadão a entregar
sua arma e, em segundo, obrigar o
criminoso a fazê-lo também?
Santos Jr. - A Secretaria da Justiça trabalhará a questão do desarmamento em pelo menos dois
pontos. Primeiro, no Programa de
Atendimento à Vítima. Nós estamos trabalhando num centro de
referência e numa cartilha que será
distribuída nas escolas e a todas as
pessoas em situação de vítima. E,
nessa cartilha, uma das observações básicas é em relação ao uso da
arma dentro e fora de casa. Fazemos várias recomendações, tendendo para o não-uso da arma.
Em segundo lugar, um dos pontos do Programa Estadual de Direitos Humanos é o aumento do
controle sobre o uso de armas e
munições pelos policiais. Nós vamos realizar uma série de atividades com a sociedade, com o Conselho de Defesa da Pessoa Humana, com a UNE, com o 11 de Agosto (centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP) e com outros
setores do Estado para que esse
ponto tenha resultados.
Cappelli - Acho que já estamos
convencendo as pessoas. Temos
recebido ligações de gente que
quer entregar armas. A partir dessa campanha e do envolvimento
da sociedade, a gente consegue
convencer essas pessoas.
Agora, para fazer os marginais,
os traficantes entregarem as armas, primeiro é preciso criar mecanismos para que a arma não
chegue às mãos deles. E, depois,
criar meios para que a gente tenha
uma polícia eficiente, que possa
recolher essa arma.
E mais importante do que isso é
pensar em como fazer para que a
sociedade não gere mais marginais. Só conseguiremos acabar
com a geração de mais violência
no Brasil quando a gente conseguir acabar com o apartheid social.
Szajman - Democracia na sua
plenitude é, inclusive, o direito de
ninguém ser morto por falta de
uma autoridade severa e dura no
exercício da cidadania.
Deve haver tolerância zero, ninguém tem que ter arma. Eu acho
que é zero mesmo para começar a
conversa. Não pode ter arma. Ninguém. Senão, não dá para limpar.
Pode ser até uma utopia, mas é
uma resposta a uma pergunta.
E, segundo, eu acho que a polícia
precisa ficar mais visível, tem de se
mostrar mais. Ela tem que estar aí,
quiosques em todos os cantos da
cidade. O cidadão precisa sentir
proteção. Então, se ele sentir proteção, a coisa melhora muito. O cidadão vai deixar a arma dele de lado, vai entregar a arma, vai desaparecer esse problema.
E, em terceiro lugar, os meios de
comunicação têm um papel superimportante a exercer no desarmamento da população. Eles têm
de se integrar ao movimento, ter
uma participação ativa na divulgação do que acontece no dia-a-dia.
Tuma - Acho que esses homicídios por questões menores, desavenças, homicídios no trânsito por
discussões fúteis, acontecem em
decorrência da facilidade com que
o cidadão anda armado. Então, a
campanha deve ser permanente.
Ela tem de formar uma cadeia que
alcance o cidadão, ele vai se conscientizar e, na hora de conversar
com o seu semelhante, dirá:
"Olha, você não deve andar armado". É uma campanha boca à boca,
de ouvido para ouvido.
Na medida em que você tem o
resultado da conscientização, começa a isolar o marginal, que anda
armado. Então, qualquer operação policial que pegar alguém armado estará diante de um criminoso em potencial.
Na medida em que achar que é
bobagem andar armado, você vai
colaborar psicologicamente com a
campanha, contar para o seu amigo, seu vizinho. Então, isso vai
acabar. Assim como essas escolas
de preparação de futuras vítimas,
que querem ensinar a usar a arma.
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