São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



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SAÚDE DA MULHER
Abortos seriam responsáveis por 10% das 113 gestantes mortas na cidade em 95, segundo especialistas
Cresce mortalidade materna em São Paulo

do enviado especial

O número de mortes maternas na cidade de São Paulo cresceu de 104, em 1994, para 113, em 1995. O coeficiente por 100 mil nascidos vivos passou de 49,67 para 54,75.
Mortes maternas são aquelas ligadas ao parto e complicações do aborto. No Brasil, estima-se que cerca de 10% desses casos estejam ligados a abortos.
"De 1993 para cá, a tendência das mortes maternas tem sido de crescimento em todo o país. É possível que o aumento se deva à melhora na qualidade das informações epidemiológicas", diz Ana Cristina D'Andretta Tanaka, professora associada da Faculdade de Saúde Pública da USP.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde ainda sujeitos a correção, 1.654 casos de mortes maternas foram notificados em 94 -4,6 mortes por dia.
Leia a seguir alguns casos de mortes causadas por abortos.

Sonhos
N.S.G., 17, morava no Jardim Ângela, sudoeste de São Paulo, era solteira e cursava o colegial. Católica, dava aulas de catecismo. Segundo a mãe, tinha o mesmo namorado desde os 13 anos. Morava com os pais, um irmão, uma cunhada e três sobrinhos.
Tinha ânsia de vômito, diarréia, cólica e hemorragia quando pediu à mãe que a levasse ao hospital. Foi internada numa sexta-feira e morreu na noite do dia seguinte.
Antes de morrer, teria dito à irmã que o namorado sabia de tudo. A mãe não sabia de nada. "Ela ia fazer faculdade, tinha sonhos, porque não conversou comigo?"

Abandonada no hospital
M.G.S.B., 33, era natural de Ilhéus (BA), separada e tinha um companheiro casado que não vivia com ela. Morava numa favela de Capão Redondo, sudoeste de São Paulo. Trabalhava como faxineira e sustentava quatro filhos, um de 12 e outro de 14 anos do primeiro casamento e dois menores, de companheiros diferentes.
Segundo a filha mais velha, a mãe fez o aborto na casa de uma mulher, onde ficou dois dias. A filha foi procurá-la e a encontrou nua, numa cama forrada com um plástico azul. Sangrava e tinha "uma coisa que parecia uma sonda". A "parteira" a expulsou dizendo que não acabara o serviço.
No dia seguinte, encontrou a casa vazia. Ela e a irmã menor foram ao Hospital Campo Limpo e reconheceram o corpo da mãe, "que soltava espuma pela boca".
Disseram-lhe que uma desconhecida deixou a mãe na porta do hospital e sumiu. A filha diz que, durante a gravidez, a mãe passava mal, não podia trabalhar, e os filhos passavam fome. A menina acha que foi por isso que abortou.

Família desavisada
A.M.J., 16, morava em Vila Joaniza, zona sudoeste. Era solteira, cursava a 7ª série e trabalhava como ajudante geral numa fábrica de bijuterias. Era católica e vivia com os pais e mais quatro irmãos.
Tinha um namorado e a família sabia que mantinha relações sexuais. Foi ela que pediu à mãe e ao namorado que a levassem ao hospital, pois tinha hemorragia.
Foi internada na Santa Casa de Santo Amaro e morreu no mesmo dia. A família disse ignorar que A.M.J. estivesse grávida e não imaginava como teria tentado abortar. Segundo os familiares, A.M.J. poderia não teria problema se anunciasse que estava grávida.



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