|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE DA MULHER
Abortos seriam responsáveis por 10% das 113 gestantes mortas na cidade em 95, segundo especialistas
Cresce mortalidade materna em São Paulo
do enviado especial
O número de mortes maternas
na cidade de São Paulo cresceu de
104, em 1994, para 113, em 1995. O
coeficiente por 100 mil nascidos vivos passou de 49,67 para 54,75.
Mortes maternas são aquelas ligadas ao parto e complicações do
aborto. No Brasil, estima-se que
cerca de 10% desses casos estejam
ligados a abortos.
"De 1993 para cá, a tendência
das mortes maternas tem sido de
crescimento em todo o país. É possível que o aumento se deva à melhora na qualidade das informações epidemiológicas", diz Ana
Cristina D'Andretta Tanaka, professora associada da Faculdade de
Saúde Pública da USP.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde ainda sujeitos a
correção, 1.654 casos de mortes
maternas foram notificados em 94
-4,6 mortes por dia.
Leia a seguir alguns casos de
mortes causadas por abortos.
Sonhos
N.S.G., 17, morava no Jardim
Ângela, sudoeste de São Paulo, era
solteira e cursava o colegial. Católica, dava aulas de catecismo. Segundo a mãe, tinha o mesmo namorado desde os 13 anos. Morava
com os pais, um irmão, uma cunhada e três sobrinhos.
Tinha ânsia de vômito, diarréia,
cólica e hemorragia quando pediu
à mãe que a levasse ao hospital. Foi
internada numa sexta-feira e morreu na noite do dia seguinte.
Antes de morrer, teria dito à irmã que o namorado sabia de tudo.
A mãe não sabia de nada. "Ela ia
fazer faculdade, tinha sonhos,
porque não conversou comigo?"
Abandonada no hospital
M.G.S.B., 33, era natural de
Ilhéus (BA), separada e tinha um
companheiro casado que não vivia
com ela. Morava numa favela de
Capão Redondo, sudoeste de São
Paulo. Trabalhava como faxineira
e sustentava quatro filhos, um de
12 e outro de 14 anos do primeiro
casamento e dois menores, de
companheiros diferentes.
Segundo a filha mais velha, a
mãe fez o aborto na casa de uma
mulher, onde ficou dois dias. A filha foi procurá-la e a encontrou
nua, numa cama forrada com um
plástico azul. Sangrava e tinha
"uma coisa que parecia uma sonda". A "parteira" a expulsou dizendo que não acabara o serviço.
No dia seguinte, encontrou a casa vazia. Ela e a irmã menor foram
ao Hospital Campo Limpo e reconheceram o corpo da mãe, "que
soltava espuma pela boca".
Disseram-lhe que uma desconhecida deixou a mãe na porta do
hospital e sumiu. A filha diz que,
durante a gravidez, a mãe passava
mal, não podia trabalhar, e os filhos passavam fome. A menina
acha que foi por isso que abortou.
Família desavisada
A.M.J., 16, morava em Vila Joaniza, zona sudoeste. Era solteira,
cursava a 7ª série e trabalhava como ajudante geral numa fábrica de
bijuterias. Era católica e vivia com
os pais e mais quatro irmãos.
Tinha um namorado e a família
sabia que mantinha relações sexuais. Foi ela que pediu à mãe e ao
namorado que a levassem ao hospital, pois tinha hemorragia.
Foi internada na Santa Casa de
Santo Amaro e morreu no mesmo
dia. A família disse ignorar que
A.M.J. estivesse grávida e não imaginava como teria tentado abortar.
Segundo os familiares, A.M.J. poderia não teria problema se anunciasse que estava grávida.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|