São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



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SAÚDE
Falta de proteção prejudica lavrador
Pesquisa liga uso de agrotóxico e suicídio

FÁBIO ZANINI
da Agência Folha, em Florianópolis

Pesquisa da Secretaria da Saúde de Joinville (SC) concluída na semana passada constatou indícios de uma relação entre o suicídio de trabalhadores rurais e o uso de agrotóxicos sem equipamentos de proteção em lavouras de arroz na cidade.
Desde o início de 1996, houve oito suicídios e uma tentativa entre lavradores de arroz em Joinville (180 km ao norte de Florianópolis), em um universo de 600 famílias. O índice de suicídios considerado "normal", dentro da média nacional, em uma comunidade desse tamanho seria de uma ocorrência a cada dez anos.
"O uso de agrotóxicos sem proteção nas plantações de arroz da região ocorre há mais de 50 anos. Mudar esse comportamento é um desafio", disse a médica Maria Abreu Artilheiro, do programa Saúde da Família, uma das coordenadoras do estudo.
De acordo com ela, o uso diário do agrotóxico, pulverizado na plantação pelo próprio agricultor, pode causar dor de cabeça e depressão, que poderia, aliada a outros fatores, levar ao suicídio.
"Não se pode dizer que os suicídios tenham sido causados unicamente pelos agrotóxicos, mas há fortes evidências de que essas substâncias tiveram uma participação efetiva", declarou a médica.
A contaminação ocorre, na maioria dos casos, pelo contato com a água. As plantações de arroz, na região, são feitas em terrenos encharcados, que retêm grande quantidade do produto tóxico.
"Ao caminhar descalço, o trabalhador acaba absorvendo o veneno. Após anos de um contato constante, é possível a ocorrência de distúrbios psíquicos", disse.
Além de botas, o uniforme mínimo para uma pulverização segura do veneno deveria incluir luvas, aventais e máscaras. O custo, segundo a médica, é de R$ 60.
A secretaria está visitando todas as propriedades rurais do município para conscientizar as famílias a comprar e usar proteção.
"O lavrador é incentivado a usar sem critério o agrotóxico. O próprio governo federal exige a imunização, mas se omite sobre os cuidados", diz Antoninho Rovaris, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina.



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