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VIOLÊNCIA
Em encontro, 50 ex-internos contaram rotina violenta em unidades de SP
Jovens relatam agressões na Febem
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
A violência nas unidades mais
problemáticas da Febem, em São
Paulo, é cotidiana e quase sempre
motivada por banalidades.
É o que se conclui dos relatos
feitos ontem por cerca de 50 ex-internos reunidos no Centro de
Defesa da Criança e do Adolescente, no Belém (zona sudeste).
Segundo o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Menor, o fato
de agrupar egressos para contarem a rotina violenta da Febem
teve como intenção dar uma resposta à "vulgarização das informações oficiais".
"As autoridades estão querendo
transformar em senso comum os
casos de agressões na Febem. Dizem que não é bem assim, que há
exagero dos menores. Por isso
quisemos mostrar a verdade."
A maioria dos relatos foi de ex-internos do complexo da Imigrantes (zona sudoeste), o mais
lotado. Percepção de quase todos
os ex-internos e sintetizada por
F.C., 16: "A Febem não dá para recuperar; dá para matar, porque só
traz revolta para os meninos".
Segundo D.J.S., 18, "qualquer
coisa serve de desculpa para a violência dos funcionários". Ele disse
que teve os dentes da frente quebrados por um monitor durante
rebelião em 1997.
"A Febem possui uma violência
banalizada e estruturada", disse o
padre Júlio Lancellotti.
Os adolescentes relataram suas
experiências nas dependências da
Febem.
A primeira regra que o adolescente toma conhecimento no estabelecimento é que ele não pode
arrastar os chinelos quando anda.
"Arrastar chinelo já é motivo para
apanhar. A repressão pode piorar,
caso o menor bata um chinelo
contra o outro. Os monitores dizem que isso é sinal para rebelião", contou R.S., 19.
Pagar veneno
O monitor que acha que o interno "saiu do padrão de conduta"
pode aplicar ao jovem o castigo
conhecido como "pagar veneno".
O menor é colocado de frente a
uma parede. Durante cerca de
meia hora, fica escorado com as
mãos para trás, apoiado somente
pelo rosto e tronco. "Dá para
aguentar uns 15 minutos. Depois
disso, a perna não suporta. Se caímos, levamos borrachada", disse
R.L.S., 18.
Rolar canguru
Quando dá entrada em alguma
unidade da Febem ou depois do
horário de visita, os jovens são
submetidos ao "canguru". Nus e
agachados, são obrigados a dar
três pulos. "É para os monitores
terem certeza de que não escondemos nada no corpo", disse S.
Banho
A regra para o banho é a seguinte: nada de se ensaboar debaixo
d'água. "A gente tem de se ensaboar na fila, antes da ducha. Isso
porque temos menos de 30 segundos para tirar o sabão. Se demoramos um pouco mais, o monitor desce a borracha. Eu, por
exemplo, fiquei dois meses sem
me ensaboar", contou E.F.B.
Lei do silêncio
Enquanto esperam o banho ou
outra atividade, os jovens são
mantidos sentados em fila. "Ninguém pode abrir a boca. Se um
encosta sem querer no outro, diz
foi "sem maldade". Essa frase já é
suficiente para os monitores
acharem que houve quebra do silêncio e partirem para a agressão.
O menino é retirado da fila e é
obrigado a ficar com o "coco" (a
cabeça) contra a parede."
Rodar peão
Uma das "brincadeiras" dos
monitores, segundo os adolescentes, é fazer o interno "rodar peão".
Com uma mão apoiada no chão,
o menor é obrigado a dar várias
voltas em círculo. Em seguida,
tem de correr em linha reta. Caso
perca o equilíbrio, apanha.
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