São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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Menor diz que nada poderia evitar roubo

da Reportagem Local

Os adolescentes infratores discordam das mães, dos irmãos e dos especialistas. Na opinião deles, nenhuma política pública de assistência poderia ter evitado que cometessem os delitos.
A Folha conversou com dois desses internos na sexta enquanto eles aguardavam suas audiências no Departamento de Execuções da Infância e da Juventude. Ambos estão internados na Febem Tatuapé por roubo, moravam com as famílias, estudavam, e os parentes estavam empregados.
"Eu conheci os "maluco" na rua. Aí eles me chamaram para fumar maconha. Fumei. Me chamaram para cheirar uma farinha. Cheirei. Me chamaram para fazer uma fita com eles e pronto. Foi um carro o primeiro. Caí na vida do crime."
É assim que O., 15, relata como começou a roubar. Ele é reincidente -foi internado pela primeira vez aos 12 anos, voltou em dezembro passado e já não sabe quantos assaltos fez.
"Foi mercado, firma, carro. Não sei quanto, não, senhora", afirma, dizendo que fez vários reféns, mas "só atirou duas vezes".
Ele sustenta que a família lhe dava o que precisava, mas diz que não bastou. "Minha coroa é pampa. Não tinha violência. Mas faltava adrenalina, senhora."
O relato é parecido com o de R., 17. "Não tinha jeito, senhora. Sou errado. Ia fazer de qualquer jeito. Quero ter as minhas coisas sem depender dos outros."
Ambos afirmam que não querem voltar à criminalidade, "mas se cruzar com os "maluco" errado vai na febre". (SC)

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