|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DO LADO DE FORA
Para 50% das famílias dos infratores, governo poderia ter evitado o problema
Famílias culpam o Estado e
buscam solução na religião
da Reportagem Local
As famílias dos
menores infratores
apontam o governo
do Estado como o
principal responsável pelo conduta
desviante dos adolescentes.
Para 50% delas, se os menores
tivessem boas escolas, chance de
praticar esporte e emprego, eles
não teriam cometido os delitos
que os levaram à internação.
O dado foi levantado por uma
pesquisa feita pela Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, na qual foram ouvidos
os chefes das famílias de 292 adolescentes infratores internados.
"O governo deveria fazer alguma coisa pelos jovens para ocupar
o tempo deles", resumiu a madrasta de um adolescente.
"A diretora
da escola expulsou o meu
filho. Para ela,
meu filho era
bandido e tinha que ficar
junto com
bandidos",
completou a
mãe de outro,
alegando que a
expulsão aumentou a "revolta" do menino.
"Aqui é assim: quando
consideram
que o aluno
não tem comportamento, as
professoras já
avisam para
nenhuma escola aceitar a
matrícula."
A preocupação com a falta de
estudo e de chances de trabalho se
reflete nas primeiras reações dos
familiares. Ao receber o pesquisador, uma das perguntas mais comuns da família era se a entrevista
era "para ajudar o menino a conseguir emprego".
A insatisfação com o governo
também aparece entre as famílias
que não quiseram dar informações, segundo o professor Rubens
Adorno, um dos coordenadores
do estudo.
"Pelo menos oito famílias se recusaram a falar alegando ceticismo em relação ao governo ou à
Justiça ou dizendo que já haviam
sido bastante incomodadas pelo
fato de terem um filho "preso"."
Na segunda posição no ranking
das possíveis soluções apontadas
pelas famílias para o problema da
criminalidade juvenil aparece a
religião. Para 12% delas, se o adolescente frequentasse a igreja, ele
não teria cometido o delito.
A crença se reflete no comportamento dos próprios membros
das famílias: 40% declararam estar frequentando cultos evangélicos e 24% disseram ser católicos.
Além do governo e da religião,
pais mais responsáveis, internações e Deus aparecem entre as outras possíveis soluções.
Apesar das críticas às instituições, 34% das
famílias afirmaram não ter
tomado nenhum providência ao notar que o menor estava envolvido com
criminosos.
A volta
As famílias
dos infratores
classificam a
Febem como a
"escola possível", mas pelo
menos 25%
delas temem a
volta do menor
para casa.
"Elas dizem
que o menor
vai voltar a
usar drogas,
está jurado de
morte ou vai trazer problemas para a família", diz Adorno.
A ida para a Febem é tida como
uma "perda moral" por pais e irmãos, mas a fundação aparece como uma instituição correcional,
em oposição à escola que expulsa.
"Meu filho gosta de uma rua,
não sei por quê. Eu não tenho como segurá-lo", afirmou uma das
mães que vêem na Febem uma
chance de recuperação.
(SÍLVIA CORRÊA)
Texto Anterior: Capa: Interno da Febem é branco, tem mãe, mas não tem pai Próximo Texto: Menor diz que nada poderia evitar roubo Índice
|