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ESTRUTURA
Aumento de internos superou crescimento de vagas, de monitores e de gastos oficiais
Superlotação sobe 163% nos
últimos 3 anos da gestão Covas
da Reportagem Local
A superlotação das unidades de
internação da Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor) mais do que dobrou nos últimos três anos do governo Mário
Covas (PSDB).
Em 95, havia 520 internos além
da capacidade das unidades. Em
setembro passado, eles já eram
1.366 -163% a mais.
Os números fornecidos pela
própria instituição evidenciam os
motivos do inchaço: enquanto o
número de internos pulou de
2.220 (junho de 96) para 3.716 (setembro de 99), o número de vagas
cresceu de 1.700 para 2.350 no
mesmo período. É um aumento
de 67,4% no número de meninos
contra um crescimento de apenas
38,2% na capacidade de o Estado
acolher esses infratores.
Mas não foram só as vagas que
não acompanharam o crescimento da criminalidade juvenil. O
mesmo aconteceu com o número
de monitores e o montante de
verbas destinadas à Febem.
Os monitores eram 1.502 em 96.
Hoje são 1.742 -um aumento de
16% no quadro de pessoal.
Se todos trabalhassem 24 horas,
o que não deveria acontecer, cada
um deles teria deixado de ser responsável por 1,5 menor em 95 para cuidar hoje de 2,1.
Ocorre, porém, que eles são divididos em escalas -trabalham
três dias em turnos de 12 horas e
folgam 48 horas- e têm que
acompanhar cada vez mais menores ao fórum e ao hospital. Ou
seja: ano a ano, cada monitor passa a cuidar de mais internos.
O mesmo aconteceu com o orçamento da fundação, apesar de o
governador ter repetido durante
toda a semana passada que nunca
faltou dinheiro à Febem. O montante total de verbas passou de R$
122.396.327 em 95 para R$
171.123.474 -um aumento de
39,8% em um período de quatro
anos, no qual o crescimento da lotação foi de quase 70%.
Consequências
A falta de investimento no atendimento dos menores infratores é
apontada como uma das principais causas dos constantes motins
e fugas que São Paulo vem assistindo nas últimas semanas.
Os números sugerem a mesma
dinâmica. O número de foragidos
saltou de 861 em 95 para 2.252 até
setembro passado. Resultado: um
aumento de 162% e uma marca
que já é recorde antes mesmo de o
ano terminar.
"Com essa estrutura, não precisa ser vidente para saber que a Febem é uma bomba-relógio e que
vai explodir", afirma o promotor
Ebenézer Salgado Soares, da Vara
da Infância e da Juventude da cidade de São Paulo.
A superlotação faz três menores
dividirem o mesmo colchão na
Febem Imigrantes e terem menos
de 30 segundos para tirar o sabão
do corpo na hora do banho.
Isso sem contar que a Imigrantes é uma Unidade de Acolhimento Provisório (UAP) -usada para abrigar o menor apenas enquanto seu caso não é julgado. Ou
seja, nenhum adolescente deveria
ficar mais do que 45 dias internado lá. Hoje, porém, eles cumprem
toda a internação no complexo, o
que pode durar até três anos.
O ex-juiz corregedor da Febem
Régis Bonvicino concorda com a
falta de investimentos do Estado
apontada pelo promotor Soares,
mas afirma também que as decisões judiciais pela internação têm
sido excessivas.
"Os números mostram que a
maioria é primário e tem família.
Pois então esse menino não deveria ser internado com essa facilidade", afirma Bonvicino.
Dados do Poder Judiciário
apontam, no entanto, que as internações continuam correspondendo a cerca de 5% ou 6% das
medidas educativas aplicadas.
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