São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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Mãe de interno se acha "omissa"

JOÃO CARLOS SILVA
da Reportagem Local

A enfermeira Míriam Regina de Oliveira, 35, festejava a chegada do Ano Novo, em 98, quando percebeu que o filho D., 17, não estava em casa para a ceia. Na época, sabia da Febem "pela TV".
Ela não tinha preocupação com o filho, que só estudou em escolas particulares, fez esportes recebia mesada e chegou a ter emprego.
Mas tudo mudou.
Da festa de Réveillon, Míriam foi parar em uma favela para buscar o filho. Ela não sabia, mas ele usava drogas. Hoje, se sente culpada. "Eu me omitia", diz.
Da favela, ela nunca mais parou. Aprendeu sobre o mundo das drogas em ONGs, que hoje ajuda. Também conheceu a Febem e o tratamento dado por lá.
D. já está em sua segunda internação, sempre por roubo. Se depender de Míriam, ele sai da Febem para morar com ela no interior. Ela quer estudar direito, especializar-se no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, com o filho, ajudar menores infratores.
Enquanto o plano não se concretiza, Míriam lidera uma comissão de pais criada na Febem Imigrantes, após a última rebelião.
Ela esteve com o governador Mário Covas na última quinta-feira, quando os pais foram chamados para discutir o problema. Amanhã, um relatório dos pais deve ser entregue a Covas. A seguir, suas críticas e sugestões.

O problema
"O problema da Febem não é de hoje. Não foram abertas novas vagas e a violência aumentou demais. Também há o fato de o ECA não funcionar na Febem. Sabemos que eles têm de ficar contidos em um lugar. Só que, colocar a sujeira embaixo do tapete não dá certo. Os menores ficam sentados na ociosidade, pensando besteira. Eles são tratados com violência e não têm direito à individualidade. É um tratamento pior que o dado a cachorros. Os monitores não têm nenhum tipo de aprendizado específico para trabalhar com os menores. E não existe uma seleção entre infratores leves e graves. A Febem é uma escola de crime."

O culpado
"Não sei quem é o culpado. Antes de o meu filho usar drogas, eu me omitia demais. Ficava vendo, pela TV, o que estava acontecendo com o filho dos outros. Nunca achei que meu filho fosse para a Febem. Os governantes também têm culpa. Alguns têm boa intenção, mas são mal assessorados."

A solução
"Primeiro, colocar na direção uma mulher, que é mais intuitiva, trata o outro como filho. Outro ponto: a descentralização. Acumular mil menores em um lugar só não dá certo. Os menores também deviam trabalhar e estudar."


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