|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O JEITINHO
Unidade está sem médico há pelo menos um ano, e internos armam fuga em hospital
Adolescente de Ribeirão finge estar doente para escapar
LUÍS EBLAK
Editor-assistente da Folha Ribeirão
LUCIANA CAVALINI
ANGELO SASTRE
da Folha Ribeirão
Um esquema sistemático aplicado pelos menores da Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de Ribeirão Preto
já resultou na fuga de pelo menos
80 internos desde o início de 99.
Os jovens fingem estar doentes
e pedem aos funcionários para serem levados a um PS (pronto-socorro). No meio do caminho, com
ajuda ou não de um colega que sabe do plano, o interno foge.
Segundo apurou a Folha, a Febem de Ribeirão Preto está sem
médico há pelo menos um ano.
Assim, a unidade acaba tendo de
liberar o adolescente para ir ao
pronto-socorro. Geralmente,
apenas um funcionário acompanha o menor até o PS.
O menino provoca um conflito
com o monitor num momento
propício -quando chega ao PS,
por exemplo- e escapa.
A Folha ouviu seis servidores da
unidade da Febem de Ribeirão
Preto e todos confirmaram a existência da estratégia desde janeiro.
Um deles diz que isso ocorre pelo
menos duas vezes por semana.
Os funcionários afirmam que os
internos "dominam a unidade",
pois a direção não consegue controlar a situação. Segundo eles, os
menores "enquadram" (ameaçam) os monitores, impedindo-os de reagir às ações.
"Eles dominam aqui. Ameaçam
nossa família, dizem que sabem
onde moramos. O que fazer?", diz
Roque, um dos monitores.
Nos últimos 12 dias foram registradas duas grandes confusões na
unidade, totalizando 102 menores
que fugiram e a primeira morte
de interno nos últimos dez anos.
Roque diz que a direção faz vista
grossa à estratégia do PS porque
tem interesse que menores perigosos escapem da unidade.
O registro de boletim de ocorrência relatando fugas de internos
causa divergência na Febem.
A assessora da presidência da
Febem Myrian Gomes da Silva
afirma que não há casos de fuga
sem registro. "Com toda certeza,
os casos são registrados. Existe
um boletim de ocorrência, uma
informação oficial", diz.
Segundo a assessora, a falta de
registro não pode acontecer porque a unidade tem que comunicar
a Vara da Infância e da Juventude.
Por outro lado, o diretor da unidade de Ribeirão Preto, Pedro
Moisés, confirma a existência de
casos de fuga durante o atendimento médico. "Fuga desse tipo
não ocorre com tanta frequência.
No máximo é uma por mês", diz.
A respeito da falta de boletins de
ocorrências, o diretor diz que não
existe nenhuma orientação que
proíba o registro do caso na polícia. "Os boletins de ocorrência só
são feitos quando existe violência.
Caso contrário, as fugas são descritas em relatórios internos."
Caso
A Folha descobriu que, no dia
27 deste mês, L.G.R.G., 17, escapou da unidade de Ribeirão utilizando o mesmo esquema PS,
duas horas antes da última grande fuga, quando 49 fugiram.
Após ser informado sobre o fato, a direção da Febem confirmou
a fuga. A polícia diz que não é
obrigatório o registro, mas a promotoria e a Febem de São Paulo
pedem que ele seja feito.
Texto Anterior: Mãe de interno se acha "omissa" Próximo Texto: Iniciativa privada esquece projeto Índice
|