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AMBIENTE
Organizações divulgam tecnologia para permitir novas derrubadas em um período de 30-40 anos
Extração de madeira no AM é sustentável
MARCELO LEITE
enviado especial a Itacoatiara (AM)
Enquanto o restante do país
ainda acredita que madeireiras
são as únicas responsáveis pelo
desmatamento, o paraense João
Cruz Rodrigues, 37, converteu-se
para o manejo sustentável. Em
Itacoatiara (270 km de Manaus) é
o grande entusiasta da utilização
racional da floresta.
Na condição de gerente florestal
da Mil Madeireira, ele teve uma
oportunidade única: implantar
um sistema de exploração de baixo impacto, que permitisse à Mil
receber um certificado de correção ecológica e conquistar o suscetível mercado europeu.
Andando pela área com o chapéu Prada de feltro bege, Rodrigues comporta-se como o melhor
advogado que o manejo sustentável poderia contar. Depois de
muitos anos derrubando árvores
pelo método convencional -e
predatório- em Paragominas
(PA), ele sabe do que está falando.
É o primeiro a dizer que não se
extrai madeira sem dano à floresta. Com efeito, o aspecto das estradas ao redor é desolador. Já as
trilhas que cortam cada talhão
(áreas de 100 mil m2 em que se divide a floresta) são bem melhores
do que o rastro de destruição deixado por tratores de esteira.
Essa é a grande diferença entre o
manejo sustentável e a exploração
convencional: o trator não entra
mais na mata. Graças a um inventário prévio das árvores de interesse (acima de 60 cm de diâmetro), é possível planejar a direção
da queda e da retirada.
Com base no levantamento, escolhe-se o traçado mais racional
das trilhas. Outra grande inovação são os tratores florestais, do tipo "skidder" e "trek-skidder". Este fica na estrada, junto à cabeça
da trilha, e puxa as toras com um
cabo de aço de até 80 m.
Quando a tora alcança a estrada, entra em cena o "skidder",
que tem rodas em lugar de esteiras e uma garra na traseira. Ele arrasta os troncos até os pátios de
armazenagem, onde serão embarcados em carretas e levados à
serraria da Mil, a 23km.
O sistema desenvolvido por Rodrigues contou com a supervisão
da rede de organizações não-governamentais (ONGs) SmartWood. É uma das credenciadas
do Conselho de Manejo Florestal
-ou FSC, Forest Stewardship
Council- para emitir o certificado de exploração ambientalmente tolerável (leia texto abaixo).
Essa espécie de "selo verde" para a madeira tem a vantagem imediata de abrir mercados no exterior. Esse é um mercado ainda
pouco explorado por empresas
brasileiras, que só exportam 14%
da madeira produzida na Amazônia (quase 70%, no caso da Mil).
O Brasil detém 4% do mercado
mundial de madeiras tropicais,
embora possua a maior floresta.
Acesso ao mercado externo não
é a única nem a maior vantagem
do manejo sustentável. Como o
nome diz, está implícita nessa tecnologia de exploração que o madeireiro retorne à área em 30 a 40
anos, para novos cortes.
Isso será possível porque a retirada segundo os cânones da certificação danifica só 132 árvores por
hectare, contra 235 na extração
convencional. Preservam-se assim muito mais sementeiras, árvores de menor interesse comercial -pela presença de ocos, por
exemplo- mas capazes de garantir a reposição.
A tecnologia existe, mas custa
caro (até R$ 50 mil pelo inventário, ou R$ 250 mil por um "skidder"). Bancos oficiais, como o
BNDES, não financiam esse tipo
de investimento. Deixados à própria sorte, os madeireiros vão
prosseguir com a solução tradicional: exploração predatória e
abertura de novas frentes.
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