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SAÚDE
Segundo a OMS, habitantes da América Latina perdem até sete anos de vida saudável em razão de dez fatores evitáveis
Álcool é o maior fator de risco para latinos
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Habitantes dos principais países
latino-americanos -entre eles
Brasil, Argentina e Chile- poderiam ganhar em média mais sete
anos de vida saudável se os governos e cidadãos adotassem medidas para reduzir dez fatores de risco para a saúde. O álcool aparece
como o principal risco, seguido
da obesidade e da hipertensão.
A expectativa de vida no Brasil é
de 68,7 anos -72 para mulheres e
65,5 para homens, de acordo com
dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já o
período vivido com boa saúde pelos brasileiros seria em média de
56,7 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A entidade estima que entre 15% e
20% dos anos de um brasileiro
são vividos em condições precárias de saúde.
Os dados constam do Informe
Mundial da Saúde 2002, divulgado ontem pela OMS. O tema deste
ano é "Prevenindo Riscos, Promovendo uma Vida Saudável".
O relatório adota o conceito de
"vida saudável", considerando
que a expectativa de vida não deve
ser o único indicador.
Os países foram agrupados em
14 regiões, de acordo com suas características socioeconômicas. O
Brasil, por exemplo, aparece no
mesmo grupo de Argentina, Chile
e México e da maior parte dos países da América Latina, excluindo-se os países andinos e algumas nações centro-americanas.
Protestos do Brasil
O critério adotado neste ano
-agrupando os países por região
e não estabelecendo um ranking
da saúde- atende a protestos do
Brasil e de alguns outros países
contra o relatório de 2000. Naquele ano, o informe classificou o
Brasil em 125º lugar num total de
191 países, atrás de nações como
Paraguai, El Salvador e Butão.
Como fez nos anos anteriores, o
Brasil voltou ontem a criticar os
dados e os critérios usados pela
OMS na elaboração do documento. Dois anos atrás, a instituição tinha se comprometido a enviar o
informe aos governos 15 dias antes de sua apresentação. "Mas só
agora, na tarde de quarta-feira, fomos informados de sua divulgação", disse José Marcos Nogueira
Viana, assessor para a área internacional do Ministério da Saúde.
Viana disse que a equipe do ministério ainda vai analisar o relatório, mas destacou que contesta
boa parte dos números. "Não discordamos das recomendações e
dos fatores de riscos listados pela
OMS, mas os números não correspondem", disse. "As próprias
tabelas informam que o Brasil não
concorda com aqueles dados, assim como os EUA, o Japão e o Reino Unido."
Segundo Viana, o critério de
"anos de vida saudável" é "subjetivo" e foi extraído em pesquisa
com um pequeno número de pessoas, "sem nossa participação".
Fatores de risco
De acordo com o relatório, nos
países do grupo do Brasil, o álcool
é o responsável por 11,6% dos
anos de vida saudável perdidos
graças a fatores de risco. A obesidade e o índice de massa corpórea
representam 4,3%, a hipertensão
4,0%, o cigarro 3,7% e o colesterol, 2,3%.
O relatório, com mais de 200 páginas, aponta os riscos de cada região e apresenta uma série de propostas para reduzi-los. "O informe apresenta um mapa sobre como as sociedades podem lidar
com uma ampla gama de condições evitáveis que estão matando
milhões de pessoas prematuramente e privando outras de uma
vida saudável", disse Gro Harlem
Brundtland, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde.
No estudo, coordenado por
Christopher Murray, um dos diretores-executivos da OMS, foram identificados os 25 principais
riscos evitáveis para a saúde. Desses, foram selecionados os dez
com maior peso. Juntos, eles são
responsáveis por 40% das 56 milhões de mortes que ocorrem
anualmente no mundo todo e por
um terço da perda global dos anos
de vida saudável.
No cálculo de anos de vida saudável, a OMS levou em consideração doenças incapacitantes e a
precariedade dos serviços de saúde, entre outros fatores. Alguém
com obesidade e hipertensão pode conservar uma vida saudável
se tiver acesso aos serviços de saúde e a medicamentos.
Segundo a OMS, o número de
anos de vida saudável perdida é
enorme, especialmente entre
crianças e jovens.
A desnutrição e o baixo peso,
por exemplo, que provocaram 3,4
milhões de mortes em 2000, são
responsáveis pela perda de 138
milhões de anos de vida saudável.
O fumo responde por 59,1 milhões de anos perdidos. No mundo todo, o conjunto da população
perderia cerca de 1,47 bilhão de
anos de vida saudável graças a fatores de risco evitáveis.
A OMS recomenda aos países
que identifiquem os fatores de risco que mais atingem suas populações e que façam investimentos
nessa direção. Concentrando esforços, poderiam melhorar a relação custo-benefício.
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