São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 2002

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SAÚDE

Segundo a OMS, habitantes da América Latina perdem até sete anos de vida saudável em razão de dez fatores evitáveis

Álcool é o maior fator de risco para latinos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Habitantes dos principais países latino-americanos -entre eles Brasil, Argentina e Chile- poderiam ganhar em média mais sete anos de vida saudável se os governos e cidadãos adotassem medidas para reduzir dez fatores de risco para a saúde. O álcool aparece como o principal risco, seguido da obesidade e da hipertensão.
A expectativa de vida no Brasil é de 68,7 anos -72 para mulheres e 65,5 para homens, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já o período vivido com boa saúde pelos brasileiros seria em média de 56,7 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A entidade estima que entre 15% e 20% dos anos de um brasileiro são vividos em condições precárias de saúde.
Os dados constam do Informe Mundial da Saúde 2002, divulgado ontem pela OMS. O tema deste ano é "Prevenindo Riscos, Promovendo uma Vida Saudável".
O relatório adota o conceito de "vida saudável", considerando que a expectativa de vida não deve ser o único indicador.
Os países foram agrupados em 14 regiões, de acordo com suas características socioeconômicas. O Brasil, por exemplo, aparece no mesmo grupo de Argentina, Chile e México e da maior parte dos países da América Latina, excluindo-se os países andinos e algumas nações centro-americanas.

Protestos do Brasil
O critério adotado neste ano -agrupando os países por região e não estabelecendo um ranking da saúde- atende a protestos do Brasil e de alguns outros países contra o relatório de 2000. Naquele ano, o informe classificou o Brasil em 125º lugar num total de 191 países, atrás de nações como Paraguai, El Salvador e Butão.
Como fez nos anos anteriores, o Brasil voltou ontem a criticar os dados e os critérios usados pela OMS na elaboração do documento. Dois anos atrás, a instituição tinha se comprometido a enviar o informe aos governos 15 dias antes de sua apresentação. "Mas só agora, na tarde de quarta-feira, fomos informados de sua divulgação", disse José Marcos Nogueira Viana, assessor para a área internacional do Ministério da Saúde.
Viana disse que a equipe do ministério ainda vai analisar o relatório, mas destacou que contesta boa parte dos números. "Não discordamos das recomendações e dos fatores de riscos listados pela OMS, mas os números não correspondem", disse. "As próprias tabelas informam que o Brasil não concorda com aqueles dados, assim como os EUA, o Japão e o Reino Unido."
Segundo Viana, o critério de "anos de vida saudável" é "subjetivo" e foi extraído em pesquisa com um pequeno número de pessoas, "sem nossa participação".

Fatores de risco
De acordo com o relatório, nos países do grupo do Brasil, o álcool é o responsável por 11,6% dos anos de vida saudável perdidos graças a fatores de risco. A obesidade e o índice de massa corpórea representam 4,3%, a hipertensão 4,0%, o cigarro 3,7% e o colesterol, 2,3%.
O relatório, com mais de 200 páginas, aponta os riscos de cada região e apresenta uma série de propostas para reduzi-los. "O informe apresenta um mapa sobre como as sociedades podem lidar com uma ampla gama de condições evitáveis que estão matando milhões de pessoas prematuramente e privando outras de uma vida saudável", disse Gro Harlem Brundtland, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde.
No estudo, coordenado por Christopher Murray, um dos diretores-executivos da OMS, foram identificados os 25 principais riscos evitáveis para a saúde. Desses, foram selecionados os dez com maior peso. Juntos, eles são responsáveis por 40% das 56 milhões de mortes que ocorrem anualmente no mundo todo e por um terço da perda global dos anos de vida saudável.
No cálculo de anos de vida saudável, a OMS levou em consideração doenças incapacitantes e a precariedade dos serviços de saúde, entre outros fatores. Alguém com obesidade e hipertensão pode conservar uma vida saudável se tiver acesso aos serviços de saúde e a medicamentos.
Segundo a OMS, o número de anos de vida saudável perdida é enorme, especialmente entre crianças e jovens.
A desnutrição e o baixo peso, por exemplo, que provocaram 3,4 milhões de mortes em 2000, são responsáveis pela perda de 138 milhões de anos de vida saudável. O fumo responde por 59,1 milhões de anos perdidos. No mundo todo, o conjunto da população perderia cerca de 1,47 bilhão de anos de vida saudável graças a fatores de risco evitáveis.
A OMS recomenda aos países que identifiquem os fatores de risco que mais atingem suas populações e que façam investimentos nessa direção. Concentrando esforços, poderiam melhorar a relação custo-benefício.


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