São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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9 HABITAÇÃO

Novas técnicas ajudam a diminuir déficit

DA REPORTAGEM LOCAL

Não é por falta de tecnologia que São Paulo tem um déficit de 380 mil moradias. O problema é de decisão política, segundo um dos arquitetos que mais entende de novas técnicas construtivas, João Filgueiras Lima.
Lelé, como é conhecido, cita como exemplo de custo baixo e qualidade os hospitais que projetou para a Rede Sarah, especializada em problemas do aparelho locomotor. O de Salvador, com 30 mil m2, custou R$ 36 milhões. Em São Luís (MA), uma unidade ligeiramente menor (29 mil 2) consumiu R$ 70 milhões -ou 95% a mais.
A diferença entre os prédios foi a tecnologia empregada. O de Salvador foi erguido com o uso de argamassa armada -método que lembra um quebra-cabeça, como define Lelé, no qual a construção é feita com peças pré-moldadas que se encaixam.
No hospital de São Luís, a empreiteira fez o prédio em concreto. Para quem tem preconceito contra pré-moldado, Lelé ganhou em 1998 o Grande Prêmio da Bienal de Arquitetura e Engenharia de Madri com o projeto baiano.
Ele não tem dúvidas de que essa tecnologia poderia ser aplicada em projetos habitacionais. O obstáculo, de acordo com ele, são as empreiteiras e os políticos que elas financiam. "A construção civil é tão atrasada porque o interesse das empreiteiras é outro, é o financiamento de campanha e, depois, a cobrança do troco." Segundo ele, não dá para misturar empreiteira com programas sociais porque o lucro gerado por eles é baixo, e as empresas tem uma estratégia de curto prazo.
A saída para o impasse é a criação de fábricas, onde as peças de argamassa armada são produzidas na escala de milhares. Lelé já tocou fábricas desse gênero em Salvador e no Rio de Janeiro. A rede Sarah também tem a sua fábrica -custou R$ 17 milhões, mas o investimento já foi pago pelos recursos que foram economizados.
As favelas poderiam ter um banco de componentes construtivos para moradia, urbanismo e esgoto, segundo ele. A produção das peças geraria empregos -no caso do Rio, a fábrica chegou a ter 6 mil funcionários.

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