São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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10 URBANISMO

Projetos devem usar know-how da periferia

DA REPORTAGEM LOCAL

O poder público despreza em suas políticas de urbanização a mais importante força que atua na construção de São Paulo: os mais pobres, os que constroem suas próprias casas, na visão do urbanista Nestor Goulart Reis Filho, professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP e autor de "Quadro da Arquitetura no Brasil", livro de 1979 que virou obra de referência.
Essa mão-de-obra poderia ser usada para urbanizar a periferia, segundo ele. O raciocínio do urbanista é elementar: se eles construíram São Paulo, por que não poderiam ajudar a instalar a iluminação pública, o calçamento e até os coletores de águas pluviais mais simples? Só as instalações de esgoto, mais complexas, seriam entregues às empreiteiras.
"Precisamos usar a imaginação e encontrar novas alternativas. Sei que os políticos demoram 20 anos para adotar essas bandeiras, mas o papel da universidade é abalar o que está aí", diz.
Reis Filho afirma que o poder público tem de parar de lutar contra a força que ergueu a periferia por meio da autoconstrução. As políticas de habitação, de acordo com ele, beneficiam mais as empreiteiras do que os mais pobres. A produção é ridícula perto da demanda, para ele. A administração do PT construiu em média 5.921 habitações entre 2001 e 2004. Elas equivale a 1,6% do déficit da cidade, de 380 mil habitações.
O recurso seria mais bem aplicado se o poder público ajudasse a melhorar o nível das casas já existentes ou daquelas que serão construídas. Isso acabaria com a perversão de que o lugar onde o material de construção custa mais caro é a periferia.
"É arrogância da classe média e dos ricos dizer como deve ser a casa dos mais pobres. Comparados a eles, somos incompetentes", diz.
Ele propõe mudar o estatuto jurídico do financiamento para moradia. É mais fácil comprar um carro do que contrair um empréstimo porque no último caso, afirma, é aplicado um instrumento jurídico do século 19: a garantia. "Fábrica de carro não inventa complicações burocráticas que pobre não pode cumprir."

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