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10 URBANISMO
Projetos devem usar know-how da periferia
DA REPORTAGEM LOCAL
O poder público despreza em
suas políticas de urbanização a
mais importante força que atua
na construção de São Paulo: os
mais pobres, os que constroem
suas próprias casas, na visão do
urbanista Nestor Goulart Reis Filho, professor da FAU (Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo) da
USP e autor de "Quadro da Arquitetura no Brasil", livro de 1979
que virou obra de referência.
Essa mão-de-obra poderia ser
usada para urbanizar a periferia,
segundo ele. O raciocínio do urbanista é elementar: se eles construíram São Paulo, por que não
poderiam ajudar a instalar a iluminação pública, o calçamento e
até os coletores de águas pluviais
mais simples? Só as instalações de
esgoto, mais complexas, seriam
entregues às empreiteiras.
"Precisamos usar a imaginação
e encontrar novas alternativas. Sei
que os políticos demoram 20 anos
para adotar essas bandeiras, mas
o papel da universidade é abalar o
que está aí", diz.
Reis Filho afirma que o poder
público tem de parar de lutar contra a força que ergueu a periferia
por meio da autoconstrução. As
políticas de habitação, de acordo
com ele, beneficiam mais as empreiteiras do que os mais pobres.
A produção é ridícula perto da demanda, para ele. A administração
do PT construiu em média 5.921
habitações entre 2001 e 2004. Elas
equivale a 1,6% do déficit da cidade, de 380 mil habitações.
O recurso seria mais bem aplicado se o poder público ajudasse a
melhorar o nível das casas já existentes ou daquelas que serão
construídas. Isso acabaria com a
perversão de que o lugar onde o
material de construção custa mais
caro é a periferia.
"É arrogância da classe média e
dos ricos dizer como deve ser a casa dos mais pobres. Comparados
a eles, somos incompetentes", diz.
Ele propõe mudar o estatuto jurídico do financiamento para moradia. É mais fácil comprar um
carro do que contrair um empréstimo porque no último caso, afirma, é aplicado um instrumento
jurídico do século 19: a garantia.
"Fábrica de carro não inventa
complicações burocráticas que
pobre não pode cumprir."
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