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DANUZA LEÃO
Conselhos para alcançar a felicidade
Estou chegando à conclusão
de que a maior sabedoria é
viver desligada.
Por viver desligada, leia-se não
prestar atenção às coisas, aliás, a
quase nada. Tem uma poeirinha
na estante? Finja que não viu; no
lugar de ficar ligando para o estofador dizendo que está esperando
as almofadas na quinta, como ele
havia prometido, finja que esqueceu da promessa. Assim a vida fica mais leve, e sua cabeça vai esquentar menos.
Nas coisas mais sérias, seja ainda mais distraída. Se seu marido
não lembrou do seu aniversário,
tanto melhor: se você também
não lembrasse, seria um ano a
menos que teria na vida, e quando sua filha aparecer com os olhos
vermelhos e morta de fome às 3h
da manhã, ofereça-se para fazer
um pão de queijo sem nem por
sombras imaginar que ela poderia estar fazendo outra coisa além
de estudar.
Ah, mas assim não é possível viver, é preciso tomar conhecimento das coisas que acontecem, pois
só assim a vida existe? Quem disse
isso? E da sua vida, quem cuida?
Se desligar significa ser profundamente egoísta e só pensar nos
seus próprios problemas, seus problemas personalíssimos, aqueles
que não dependem de ninguém
para serem resolvidos.
O livro que está lendo, por
exemplo; é preciso mergulhar nele
de tal forma que, se a máquina de
lavar der defeito e alagar toda a
área de serviço, você não esteja
nem aí. Quando seu filho adolescente chegar e fizer um escândalo
ao ver a casa quase inundada, diga apenas que estava tão absorvida na leitura que não viu. Ele vai
fazer um pequeno escândalo, claro, mas quando perceber que você
não vai tomar nenhuma providência, vai se virar. Ou falando
com o porteiro, ou ligando para o
pai ou aprendendo, enfim, que
existem as páginas amarelas, e
que com elas qualquer pessoa de
mediana inteligência resolve
qualquer problema.
Quem conseguir ser realmente
desligada desde bem cedo descobre que a felicidade existe; e quem
não conseguir essa benção naturalmente, pode -e deve- fingir
que não vê as coisas que estão
acontecendo e que não só nos
aborrecem como podem nos fazer
muito infelizes.
Seu namorado é, declaradamente, um galinha. Tudo bem,
todos os homens são. Mas existem
galinhas e galinhas, e certas gentilezas feitas com algumas mulheres ferem mais do que com outras.
Galinhar com uma estranha é
uma coisa, com nossa maior amiga é outra. E o que fazer, na hora
em que se tem certeza -e coração de mulher não se engana jamais, só exagera às vezes- do
que está acontecendo?
Se fingir de cega. Não ver nada,
não entender nada, e continuar
tratando os dois -a piranha, inclusive- como se nada fosse.
Mas piranha, ela, como assim?
Porque nenhum homem paquera
mulher nenhuma se não vir aceso
na testa dela aquele sinal verde,
ou pelo menos amarelo.
Melhor ainda: se finja de idiota.
Idiota é aquela que tem uma névoa diante dos olhos para tudo
que possa incomodá-la, e nada
mais cômodo para os homens do
que ter uma mulher idiota como
companheira. Uma mulher que
não discute a relação, que acredita em tudo o que ele diz, que não
consegue enxergar a realidade. E
o que é a realidade, afinal?
Para ela, é uma felicidade achar
que a vida é cor-de-rosa, que os filhos são uns anjos, que a vida não
tem problemas e que ganhou na
loteria quando casou com aquele
cafajeste.
É fácil ser feliz. É só abrir mão
de ser inteligente, perspicaz, sensível e atenta, é só fingir que não vê
nada do que se passa em volta e
passar por boba diante da humanidade.
Ah, e importantíssimo: se recusar, sempre, a ouvir qualquer verdade que queiram te contar
-para seu bem, é claro.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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