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ANÁLISE
Tecnologia fica mais interessante e temível
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Sempre que ouço alguém falar em "complô", tenho vontade de chamar um psiquiatra,
mas não é preciso ser paranoico para identificar riscos à segurança e à privacidade na tecnologia de identificação por
frequência de rádio (RFID, no
acrônimo inglês), na qual se baseia a placa eletrônica.
O problema não são só os carros, mas o crescente número de
itens dotados desse pequeno
chip, que armazena e transmite
informações quando ativado
por um mecanismo de leitura.
Etiquetas RFID já estão presentes em cartões bancários,
produtos eletrônicos e, à medida que se tornam mais baratas,
vão cada vez mais substituindo
o código de barras da embalagem dos produtos. A decodificação do RFID, ao contrário da
do código de barras, não requer
a aproximação do leitor ao chip,
podendo ser feita a vários metros de distância ou até mesmo
por dispositivos wi-fi.
É exatamente aí que a tecnologia se torna ao mesmo tempo
mais interessante e mais temível. Comecemos pelo lado do
bem. A localização de qualquer
item etiquetado torna-se automática na área de cobertura por
leitores. O extravio de malas
em aeroportos, por exemplo,
deixa de ser um problema. São
grandes as vantagens em termos de organização e logística,
caso das bibliotecas e da indústria. Também a segurança sai
favorecida. Um exemplo óbvio
é o da redução de furtos em lojas e supermercados.
Aplicações derivadas podem
incluir o fim das filas em caixas
(as mercadorias levadas pelo
consumidor cadastrado são debitadas diretamente em seu
cartão de crédito) e até geladeiras inteligentes que avisam seu
proprietário quando expira o
prazo de validade dos produtos
nela contidos.
No futuro, portadores de determinadas moléstias poderão
andar com seu prontuário eletrônico implantado num chip
sob a pele. Assim que entrarem
num hospital, o médico já saberá do que cada um sofre e terá
acesso aos exames anteriores,
evitando erros iatrogênicos.
O problema é que, pelo menos por enquanto, não há como
"desligar" os chips RFID. Isso
significa que cada um de nós
pode ter seus passos monitorados apenas por andar com um
cartão de crédito, mesmo sem
utilizá-lo. Pior ainda, pessoas
mal-intencionadas podem obter acesso a informações bastante pessoais, como o valor
aproximado das compras que
acabamos de fazer ou o tamanho do sutiã que uma mulher
esteja usando.
Há um limite para quão aberto deve ser o livro de nossas vidas. Não é necessário acreditar
em todo gênero de teorias
conspiratórias para ver com
uma ponta de receio a disseminação da tecnologia RFID.
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