São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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TRÂNSITO
Motorista precisa ter material a partir de amanhã; infrator pagará multa de R$ 115 e terá 5 pontos na carteira
Despreparo torna kit de socorro pouco útil

Paulo Giandália/Folha Imagem
Pedestre analisa um kit de primeiros socorros para veículos vendidos em camelô de São Paulo


GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

O kit de primeiros socorros passa a ser obrigatório em todos os veículos do país a partir de amanhã, sem que a maioria dos 40 milhões de motoristas brasileiros saiba manusear os itens que fazem parte do estojo ou fazer um atendimento de emergência.
As aulas de primeiros socorros -em que o motorista poderá aprender a manusear os itens do kit e prestar atendimentos básicos às vítimas de acidentes- devem começar a ser dadas oficialmente em todo o Brasil apenas a partir de março, de acordo com previsão do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Só que as aulas serão ministradas apenas para os candidatos que vão tirar a habilitação pela primeira vez ou para quem vai renovar a licença.
As seis horas de aula obrigatória de primeiros socorros passarão a ser aplicadas apenas a partir da criação dos Centros de Formação de Condutores, que vão substituir as atuais auto-escolas.
Para os motoristas já habilitados, o curso de primeiros socorros é obrigatório apenas na hora da renovação.
Isso significa que a pessoa que tirou carteira de motorista em 97 fará o curso apenas em 2002, uma vez que a carteira tem validade de cinco anos.
A previsão do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo é de que a renovação das carteiras vai durar até 2008. O Estado de São Paulo tem 11,5 milhões de motoristas.
Mesmo que não saiba usar o kit, o motorista será obrigado a portá-lo dentro do veículo. A pessoa que vai viajar sem ele deve redobrar a atenção para não ser pego de surpresa na volta.
A multa para quem for flagrado sem o kit é de R$ 115. O motorista também receberá cinco pontos no prontuário e corre o risco de ter o carro apreendido.

Pouca utilidade
"Da forma como está, o kit não tem nenhuma validade. Ele está sendo adotado sem especificação técnica de como devem ser os materiais (tamanho, largura e prazo de validade) e sem nenhuma curso ou cartilha para que o motorista saiba como usá-lo", afirmou Fábio Racy, presidente da Abramet (Associação Brasileira de Acidentes e Medicina de Tráfego).
Racy é um dos médicos que participaram da definição dos materiais que deveriam constar do novo kit, que pode ser usado para estancar uma hemorragia ou imobilizar pessoas com fraturas.
"O dinheiro gasto nesses kits deveria ser usado na prevenção de acidentes. O kit não vai mudar em nada os índices de mortalidade e sequelas provocadas pelos acidentes", disse o professor de cirurgia geral e trauma da Faculdade de Medicina da USP Dario Birolini.
O diretor do Denatran, Gildel Dantas, afirmou que o kit dispensa cursos. Segundo ele, os itens devem ser usados "apenas em casos de pequenos ferimentos".



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