São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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DESABAMENTO
Crea diz que, isoladas, falhas no projeto dos pilares não teriam causado a queda
Obra malfeita derrubou o Palace 2

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Falhas no projeto de dois pilares e uma suposta má execução da obra causaram o desabamento do edifício Palace 2, concluiu o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Estado do Rio. De acordo com o Crea, se a obra de construção tivesse sido bem feita, o edifício não cairia mesmo com os pilares em situação de fragilidade.
O desabamento parcial do Palace 2 ocorreu no dia 22 de fevereiro deste ano. Oito moradores morreram soterrados. Dias depois, o restante do prédio foi implodido.
O edifício foi erguido pela construtora Sersan, pertencente ao ex-deputado federal Sérgio Naya. Após o desabamento, Naya foi cassado na Câmara dos Deputados. O Crea do Rio o proibiu de exercer a engenharia.
Segundo o presidente do Crea, José Chacon de Assis, houve "erro grosseiro no dimensionamento" dos pilares P-4 e P-44 do Palace 2. "Sozinho, isso não teria acarretado a queda do prédio. A queda foi uma combinação de erros no projeto dos pilares e do fato de a obra não ter sido feita conforme a boa técnica", disse ele.
A comissão montada pelo Crea para apurar as causas do desastre concluiu que, entre outras irregularidades, a construtora não teria protegido as armaduras de aço dos pilares com ganchos e revestimentos de concreto.
A falta de proteção teria causado a oxidação do aço das estruturas, o que, segundo o Crea, contribuiu para o desabamento.
A Folha tentou ouvir ontem o advogado de Naya, Nilo Batista. Ele não foi localizado. A defesa de Naya sustenta que o desabamento foi provocado por erro estrutural, de responsabilidade do projetista, e não da Sersan.
Responsável pelo projeto estrutural do edifício, o arquiteto José Roberto Chendes, que mora em Brasília, disse, em depoimentos oficiais, que não cometeu os erros apontados pelo Crea e pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil do Rio.
Naya teve seus bens e das empresas que dirige embargados pela Justiça, como garantia de que as vítimas serão indenizadas. Enquanto o caso não chega a uma solução judicial, 50 famílias, desabrigadas desde o desabamento, continuam morando em hotéis.
O analista de sistemas Rui Fetal, que era dono de apartamento no Palace 2, disse ontem que a situação dessas famílias é dramática.
"Eu me sinto em uma prisão vivendo dentro de um hotel. É um desgaste familiar muito grande. Lamento que a Justiça brasileira seja tão morosa. Estamos vivendo um drama terrível há dez meses."



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