São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Danilo Verpa / Folha Imagem
A redatora publicitária Cibele Pastre, 34, que mora sozinha há quatro anos
SÃO PAULO - A redatora publicitária Cibele Pastre, 34, que mora sozinha há quatro anos

Daniel Bergamasco

Solidão pesa mais para elas

60% de quem mora sozinho na região Sul avalia a experiência como ótima/boa; é o maior percentual do país

Na faixa dos 26 aos 40 anos, 77% das mulheres reclamam da falta de companhia; eles são apenas 30%

A redatora publicitária Cibele Pastre, 34 anos, vive sozinha há quatro anos. “É muito libertador poder trazer em casa quem eu quero, fazer bagunça quando eu quero. O lado negativo é a solidão, de você sofrer uma tentativa de assalto na rua e não ter para quem contar, por exemplo.” O empresário Alexandre Ktenas, 39, vive sozinho há 23 anos, desde os 16. “É uma delícia, adoro morar sozinho, montar minha casa com as coisas do meu gosto, do meu jeito. A bagunça seria problema, mas tem a Nina, que vai todos os dias em casa.”
Na pesquisa Datafolha, Cibele e Alexandre mostram que o peso da falta de companhia é uma questão de gênero. Na lista de prós e contras da vida dos que moram sozinhos, a solidão é a principal reclamação de 45% das mulheres, contra 32% dos homens. “A mulher tende a reclamar mais que o homem, ela é mais exigente em vários aspectos e, até por isso, acaba achando piores esses momentos em que está sozinha”, acredita o psicanalista Thiago Almeida, pesquisador de relacionamentos na USP. “Além disso, conforme a idade, ela tem mais desvantagem nas relações amorosas, já que o homem tende a procurar uma mulher que seja, em média, dez anos mais jovem que ele.”
José Roberto Leite, chefe da unidade de Medicina Comportamental da Unifesp, tem outra visão sobre os dados. “Os homens têm menos facilidade de assumir a solidão, o que não quer dizer que eles não passem por isso. É mais fácil assumir que a bagunça da casa é o principal problema. As mulheres falam disso com muito mais facilidade, não precisam parecer tão auto-suficientes”, avalia.

Lasanha individual

A pesquisa aponta que 8% da população brasileira mora sozinha. Desse total, 52% dizem que a experiência é ótima ou boa; 22% dizem que é regular; e 25% a consideram ruim ou péssima. O auge da aprovação acontece na faixa dos 26 aos 40 anos, em que a média de ótimo e bom sobe para 64%. Entre os brasileiros com 41 anos ou mais, a aprovação média é de 46%. “Morar sozinho é algo fantástico como aprendizagem. A independência traz felicidade, porque você pára de se basear em uma expectativa falsa de que depende das atitudes dos outros para que sua vida mude. Viver em grupo é também muito bom, mas quem passa por essa experiência solitária tem esse aprendizado como vantagem para o resto da vida”, diz Leite.
“Aprendi a me virar e a deixar a casa mais legal, mais confortável e montei lá meu escritório, então passa bastante gente por lá”, diz Alexandre. Na parte mais prática, há dificuldades. “É meio chato ir só ao supermercado comprar só uma pêra, ou só uma maçã. Lasanha individual é uma conquista, porque um grande problema de morar sozinha é comprar aquela embalagem grande de pão e depois jogar metade fora”, diz Cibele. “Tirando isso, está tudo certo”, conta a publicitária, que diz concordar com outra constatação da pesquisa: a reclamação sobre “não ter com quem conversar” perdeu força entre as pesquisas Datafolha de 1998 e 2007: caiu de 32% para 18% dos entrevistados. “Imagine! Eu falo toda hora, fico na internet e recebo as pessoas em casa. A agenda de um solteiro é bem maior que a de um casado”, diz ela.

Os homens têm menos facilidade de assumir a solidão, o que não quer dizer que eles não passem por isso”


José Roberto Leite, chefe de Medicina Comportamental da Unifesp

38% dos que moram sozinhos nas regiões Norte/Centro-Oeste avaliam a experiência como ótima/boa. No Nordeste, são 42%; no Sudeste, 54%



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