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Ano-novo sem destino

Famílias que perderam tudo no incêndio na favela do Moinho improvisam moradia e tentam reconstruir barracos no local

Jorge Araujo/Folhapress
Moradores da favela passam pela linha do trem
Moradores da favela passam pela linha do trem

NATÁLIA CANCIAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com um alto-falante, um menino atravessa depressa os trilhos do trem da CPTM e anuncia: "Oito horas, comida na creche".

Quase esbarra nos pés de Carlos Alexandre dos Santos, 30, sentado nos colchões empilhados embaixo do viaduto Engenheiro Orlando Murgel, na região da Barra Funda, em São Paulo.

Nos últimos quatro dias, ele fez quatro barracos em pontos diferentes do entorno da favela do Moinho, destruída por incêndio no dia 22. Duas pessoas morreram.

Por volta das 13h de ontem, uma semana após a tragédia, ele foi retirado do último lugar onde tentara ficar: um terreno invadido ao lado da favela. Com ele, saíram 50 pessoas. Um portão de acesso à área, que é particular, foi fechado com cadeado.

"Estou montando um barraco por dia. Por mim, ficava até na rua, mas tem as crianças", dizia Santos, enquanto mostrava as três filhas pequenas no colchão e as tábuas, acumuladas.

Esse é o cenário do que sobrou da vida de 368 famílias atingidas pelo incêndio. Espalhados em albergues, no depósito de uma escola de samba, sob o viaduto e até mesmo na calçada, a maior parte está sem destino às vésperas do Ano-Novo.

CAMA EMPRESTADA

A auxiliar de limpeza Rose Rodrigues, 38, conta os dias para a virada. Assim que passar o Réveillon, ela vai perder a cama emprestada em um dos galpões da escola Leandro de Itaquera. Motivo: o dono da cama, que está viajando, vai voltar.

Em busca de um espaço, parte das famílias ainda tenta voltar, todos os dias, ao local atingido. No lugar, isolado pelos bombeiros, o cheiro de queimado pode ser sentido a metros de distância. Guardas-civis vigiam o lugar.

"Se o senhor está pensando em entrar aqui, já vou falar para nem entrar. Pode tirar esse pensamento que estou de olho no senhor com o seu carrinho lá de longe", disse um guarda para um senhor que contornava a área.

Assim que o guarda-civil se afasta, uma das desabrigadas, que pede para ser chamada apenas de Ana Lúcia, confessa: "A gente sempre tenta olhar o que sobrou do incêndio, mas só à noite, ou quando eles não estão aqui".

ATENDIMENTO

A prefeitura diz que a área atingida oferece riscos e, por isso, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) vigia o local. Ainda segundo a prefeitura, terminou nesta semana o cadastramento das famílias. Elas devem receber auxílio aluguel de R$ 1.200 e ser encaminhadas a programas sociais.

Conforme a prefeitura, as famílias agora devem procurar a Central de Habitação para concluir o cadastro.

Ainda segundo a prefeitura, o atendimento no Clube Escola Raul Tabajara, que oferece abrigo e alimentação às famílias, será mantido enquanto for necessário.

De acordo com a CPTM, os reparos na linha foram feitos e a circulação de trens voltará assim que a área for liberada, após demolição do prédio. A prefeitura afirma que pretende fazer isso o quanto antes.

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