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Estado ainda deve por dano ambiental do Rodoanel

Governo paulista não compensou aldeias indígenas afetadas por obra

Pronta há quase dois anos, rodovia tem outras contrapartidas ambientais que ainda não saíram do papel

Jorge Araújo/Folhapress
Criança brinca em uma aldeia indígena que foi afetada pelas obras do trecho sul do Rodoanel, na zona sul de São Paulo
Criança brinca em uma aldeia indígena que foi afetada pelas obras do trecho sul do Rodoanel, na zona sul de São Paulo

EDUARDO GERAQUE
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Quase dois anos depois de o trecho sul do Rodoanel ter entrado em funcionamento, índios das aldeias que margeiam a estrada ainda aguardam compensação do Governo de São Paulo pelos transtornos causados pelas obras.

Assim como a deles, outras compensações ambientais acordadas pela construção da rodovia pela Dersa (empresa do Estado) estão atrasadas, na avaliação de especialistas.

O acordo previa a criação de novas unidades públicas de conservação, mas parte disso não saiu do papel. Outra exigência era o plantio de 2,5 milhões de mudas, mas uma parcela delas está morrendo e precisa de replantio.

"O impacto já ocorreu. Mas as ações para minimizá-lo não. Elas deveriam estar prontas junto com a inauguração da obra", afirma Carlos Bocuhy, do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental.

A morosidade preocupa Timóteo Verá, 42, cacique da aldeia Tenonde Porã, em Parelheiros (sul de São Paulo).

A aldeia é vizinha à estrada e, assim como outras duas reservas indígenas (uma delas afetada pelo trecho oeste, pronto há dez anos), deveria ter recebido novas terras como compensação pelos estragos causados pela rodovia.

"A gente negocia há um tempão. O Rodoanel já foi criado e estão nos enrolando, sem nada ser definido", diz.

Os impactos da obra já chegaram, conta Timóteo: aumentou o número de pessoas vivendo no entorno da aldeia. A caça, a pesca e a matéria-prima para o artesanato tornaram-se mais escassas.

DESMATAMENTO

A compensação pela perda das áreas verdes também incluía a entrega, por parte da Dersa, de nove parques ao poder público municipal, num total de 9,7 milhões de metros quadrados, segundo a Prefeitura de SP - mas 45% dessa área não foi entregue.

Atendendo às obrigações legais, a empresa ainda teve que plantar milhares de mudas em mais de mil hectares.

Desse total, entretanto, apenas 250 hectares foram considerados totalmente recuperados pelos botânicos envolvidos na questão.

Um trecho de 150 hectares não vingou, passados dois anos do plantio das mudas.

Os 600 hectares restantes foram plantados há menos de dois anos e, por isso, ainda não há uma avaliação definitiva sobre sua qualidade.

Apesar de a Dersa afirmar que cumpriu as exigências, Bocuhy critica a forma como as compensações ambientais são propagandeadas.

"O que se perdeu na região, em termos de biodiversidade, não se recupera com o plantio de mudas. Está errado dizer o contrário."

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