Depoimento

No voo de Brasília para São Paulo, o verdadeiro overbooking

Acordei às 6h30. Dirigi por 35 minutos e depois enfrentei, a pé, a poeira dos canteiros mal cuidados e sem grama do estacionamento do aeroporto de Brasília. Mas parecia estar tudo bem ontem cedo com o voo JJ 3701, da TAM, com destino a Congonhas, em São Paulo. A saída estava marcada para 9h17. Por volta de 8h30 começou o embarque.

A boa impressão inicial dissipou-se em seguida. O voo estava com mais passageiros do que poltronas no avião. Overbooking, no jargão das companhias aéreas.

Qual foi a diferença desta vez? A TAM se descuidou e passageiros extras de fato embarcaram, mesmo não havendo poltronas para todos.

Dois passageiros ficaram em pé, no corredor. Uma cena bizarra. Não saíam dali. Apesar das piadas -"dá para viajar dentro do banheiro?"-, o avião ficou parado.

Já passava de 9h30 e o comandante anunciou o problema. Constrangido, perguntou se alguém cederia seu assento e iria no voo seguinte, às 10h35. Risadas. "O que vai decolar às 10h35 é este nosso", disse um passageiro ao meu lado.

Anunciou-se uma oferta: cada voluntário receberia R$ 200 de crédito. Mais risadas nervosas. Atrás de mim alguém explica: "É roubada. O valor não é em dinheiro. É crédito e só vale para comprar passagens da própria TAM, na tarifa cheia. Ou seja, é zero".

Tensão no avião. Aí duas boas almas aceitaram a proposta. Alguns minutos depois, voltaram. A equipe da TAM havia se esquecido de avisar: só poderiam sair passageiros sem bagagens despachadas.

Tudo somado, o avião decolou pouco depois das 10h. Chegou a Congonhas às 11h30. Um atraso até pequeno.

Mas tive de voltar ontem mesmo para Brasília, no voo 3722 da TAM, e enfrentar nova demora. Mesmo sem overbooking, atraso de uma hora. Parece ser uma espécie de padrão atual. "Uma hora não é atraso hoje em dia", repreendeu-me um passageiro ao meu lado ao me ouvir resmungar.