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Pasquale Cipro Neto

Quem é quem?

Um dos caminhos é levar em conta que a ordem das palavras e das orações não deve ser engessada

O LEITOR habitual deste espaço sabe que volta e meia comento textos jornalísticos que não são exemplos de clareza, boa redação etc. Em muitos casos a simples inversão da ordem melhora o texto; em outros, é necessário fazer mais ajustes.

Veremos um texto publicado há algumas semanas num site de notícias. Informo que substituí os antropônimos por "Fulano de Tal" e "Beltrano de Tal", o topônimo por "YY" e o nome do supermercado por "XX" (antropônimo é nome de pessoa; topônimo é nome de lugar).

Pois bem. Vamos à passagem: "O suspeito pela morte do diretor distrital da rede de supermercados XX, Fulano de Tal, 48, entregou-se nessa segunda-feira em uma delegacia de YY. Segundo a assessoria da Polícia Civil, o suspeito, chamado Beltrano de Tal, 37, é garoto de programa e, até o dia do assassinato, teria se encontrado duas vezes com o diretor da rede de hipermercados. (...) O corpo da vítima foi encontrado na tarde do dia seguinte, sem roupas e enrolado em um lençol e com um corte profundo na garganta, em um dos cômodos de uma casa situada em um condomínio de YY".

Volte ao começo da notícia. Quem é Fulano de Tal? É o suspeito? É o assassinado? Sim, já sei, a leitura das passagens seguintes deixa claro que Fulano de Tal é a vítima, mas isso poderia ficar claro de imediato, se a ordem fosse outra. Quer ver? Lá vai: "O suspeito da (e não 'pela') morte de Fulano de Tal, diretor distrital da rede de supermercados XX, entregou-se nesta (e não 'nessa') segunda-feira em uma delegacia de YY". Que tal? Clareza imediata, não?

Passemos à sequência da notícia: "Segundo a assessoria da Polícia Civil, o suspeito, chamado Beltrano de Tal...". Não lhe parece estranho o trecho "O suspeito, chamado Beltrano de Tal..."? Seria melhor dizer logo que, "Segundo a assessoria (...), o suspeito, Beltrano de Tal, é garoto...".

Bem, melhor mesmo teria sido dar o nome do suspeito logo de cara, no começo da notícia. Teríamos isto: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal, diretor distrital da rede de supermercados XX, entregou-se nesta segunda-feira...". Que tal? Se fosse adotada essa redação, economizar-se-ia, na segunda parte da notícia, o nome do suspeito. Teríamos simplesmente o seguinte: "Segundo a assessoria da Polícia Civil, o suspeito é garoto de programa...".

A esta altura, talvez valesse a pena vermos o trecho todo reescrito. Vamos lá: "Beltrano de Tal, suspeito da morte de Fulano de Tal, diretor distrital da rede de supermercados XX, entregou-se nesta segunda-feira em uma delegacia de YY. Segundo a assessoria da Polícia Civil, o suspeito é garoto de programa...".

Agora volte para o trecho final da notícia ("O corpo da vítima foi encontrado..."). Não será melhor separar o estado do corpo do local em que ele foi encontrado? Note que no texto essas duas longas informações vêm em sequência, o que dificulta a compreensão. Vamos lá: "Sem roupas, enrolado em um lençol e com um corte profundo na garganta, o corpo da vítima foi encontrado em um dos cômodos de uma casa situada em um condomínio de YY".

Escrever com clareza não é coisa do fim do mundo, é? Um dos caminhos consiste em levar em conta que a ordem das palavras e das orações não deve ser engessada. Veja sempre se colocou as palavras e as orações na melhor posição possível, na posição que facilita a leitura e a captação imediata do sentido, sem ambiguidade. Lembre-se também de que a ordem interfere não só na essência da mensagem, mas também na carga de ênfase que se dá a este ou àquele termo da frase. É isso.

inculta@uol.com.br

AMANHÃ EM COTIDIANO
Barbara Gancia

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