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Uso do Tamiflu tem de ter controle, diz médico

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

A liberação da venda do Tamiflu sem a retenção da receita, anunciada pelo Ministério da Saúde, poderá estimular o uso indiscriminado do remédio, que já tem uma ação limitada no tratamento da gripe A.

Essa é a opinião do infectologista Esper Kallás, professor da Unifesp (Federal de São Paulo) e membro do núcleo de infectologia do Hospital Sírio-Libanês (SP). Leia a entrevista.

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Folha - É justificado esse alarde em torno do aumento de casos da gripe A?
Esper Kallás - Não há nada de diferente que justifique isso. Acontece que a cultura da gripe no Brasil é recente. A gente nunca deu bola para isso até a epidemia da gripe A, em 2009. Mas os casos de influenza sempre existiram.
O que vemos hoje é o mesmo comportamento da gripe, como em todos os anos. É evidente que, em alguns anos, o impacto será maior, e, em outros, mais brando.

E as mortes?
Sempre existiram casos de mortes relacionadas ao influenza, mas a gente não as identificava. A maioria dos casos [atuais] é de gripe A, mas não é epidêmico. O grande receio é que entre um vírus diferente daquele que circulou nos anos anteriores, como ocorreu em 2009.
Aí você pega uma população suscetível, o número de casos é maior. O segundo grande temor é quando entra um vírus que tem uma mortalidade associada maior, como o da gripe aviária, o H5N1.
Esse sim matou metade das pessoas [infectadas].

O que o sr. pensa sobre essa corrida em busca do Tamiflu?
Na minha opinião, o Tamiflu é um remédio ruim. Tem eficácia pequena, e o beneficio aos pacientes é discreto. Tem uma janela de uso muito curta, no máximo 36 horas após o início dos sintomas.
Dos casos que acompanhei, vi que em um número considerável [o medicamento] não muda a história, principalmente nos mais graves durante a epidemia em 2009.
Os médicos que receitam precisam ter isso na cabeça antes de ir receitando indiscriminadamente. O uso do Tamiflu é muito restrito, só vale se você pega um caso mais exuberante, desde o início, ou para aquelas pessoas que estão em grupos de risco. A população em geral não vai se beneficiar com o remédio.

Sem retenção de receita, há perigo de uso indiscriminado?
Algum controle deveria ter, como se tem com os antibióticos. Na prática, transformar o remédio em tarja vermelha é liberar a venda, porque todo mundo compra sem receita nas farmácias. O que pode acontecer também é o vírus se tornar resistente à medicação, mas ainda não há comprovação de que isso ocorra.

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